Saturday, September 25, 2010

As Negociações com os Palestinos - 19/9/2010

Mais uma vez o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas ameaçou se demitir do posto se desta vez as negociações diretas com Israel falharem. Mas ninguém está vendo nem a OLP nem a Fatah ocupados em procurarem um substituto.


Abbas fez esta declaração numa reunião recente do Comitê Central da Fatah. Outra vez. Nos últimos anos Abbas ameaçou dezenas de vezes de se demitir, cada vez por causa de outra coisa.

Agora, nesta “democracia” palestina, em vez de novas eleições, o que irá acontecer se Abbas sair de cena, é que o Conselho Central da Fatah irá se reunir e eleger um novo presidente que seja aceito também pela OLP. Como em outros países árabes, não há o cargo de vice-presidente para tomar o leme se houver a necessidade.

A Autoridade Palestina está infeliz com o plano de Washington de se concentrar nos encontros bilaterais entre Abbas e Netanyahu em vez das negociações serem conduzidas por delegações de negociadores dos dois lados. Isto colocará toda a responsabilidade pelo sucesso ou falha das negociações pessoalmente nos ombros de Abbas. Além disso, neste novo formato, as negociações são conduzidas com um americano presente. Muitos analistas têm dito que Abbas fala com o mediador americano e este com Netanyahu e que estas negociações não são tão “diretas” como gostariamos de acreditar.

A inflexibilidade que Abbas quer manter em tudo, inclusive na continuação do congelamento de construção judaica na Judéia e Samária, está em direta contradição com a própria essência da negociação que é o “toma lá, dá cá”. Nabil Sha’ath, membro da delegação palestina nestas “negociações de paz”, reiterou neste final de semana que Abbas e os palestinos não farão qualquer concessão a Israel, inclusive a de reconhecer Israel como um estado judeu. Ele continuou dizendo que a continuação do processo de paz irá depender das ações de Israel no chão, especialmente em relação à expansão dos assentamentos”.

Então, do lado dos palestinos estas negociações são efetivamente um complô para enfraquecer Israel porque se eles já construiram um muro de aço sobre suas demandas e não há o que negociar, e para concordarem em apenas sentar, Israel precisa fazer concessões que afetarão seu futuro e segurança, alguém tem que me explicar qual é o ponto de tudo isso.

Muitos me perguntam porque sou contra as negociações de paz. Afinal, Hillary Clinton e o próprio presidente de Israel, Shimon Perez, parecem estar seguros que não há futuro para o status quo. Hillary disse na semana passada que isto não quer dizer que a situação atual não possa durar mais uns 30 anos mas que ao final, ela é insustentável para Israel. Como se só Israel tivesse a perder com a falta de um acordo de paz.

Não sou contra negociações de paz. Muito pelo contrário. Sou contra estas negociações de paz, neste contexto e com estes atores. Não é lógico se negociar uma paz que envolva a entrega de terra, com bilhões de dólares em ajuda econômica prometida que possam ser usados em armas, e o fortalecimento de um inimigo que não está preparado psicologicamente para a paz.

Isto não é especulação. Já tentamos isto no passado. A guerra dos palestinos contra Israel foi o resultado direto dos acordos de Oslo. Estes acordos deram autonomia aos palestinos que foi usada por eles não para construirem um país mas para incitar os jovens, trazerem armas e explosivos e se organizarem para a guerra. Israel não aprendeu com Oslo e em 2005 entregou Gaza e não preciso lembrar aqui o resultado.

Todos os acordos entre Israel e a OLP foram predicados na entrega de terras por Israel contra promessas de moderação pelos palestinos. Israel cumpriu com seu lado mas a OLP, ao contrário, usou cada acordo para aumentar sua guerra política e terrorista contra Israel.

E para tentar resolver este problema criado pelas “iniciativas de paz”, o mundo decidiu que o remédio seriam mais concessões. Mas não há qualquer concessão mágica que resolva o problema.

Toda concessão por Israel, por mínima que seja, como o discriminatório congelamento temporário da construção por judeus na Judéia e Samária, é considerada permanente e o ponto de partida para mais concessões.

Muitos dizem que Israel tem a ganhar com estas negociações porque ao final Abbas não irá assinar qualquer acordo. E isto é provavelmente verdade. Com o Hamas controlando Gaza e grande maioria dos palestinos na Judéia e Samária simpatizantes do grupo terrorista, Abbas não vai arriscar sua vida assinando qualquer coisa com Israel.

Mas qualquer vantagem política mínima que Netanyahu pode pensar em conseguir, no final não irá compensar os danos que provavelmente estas negociações causarão. Primeiro, os apertos de mão e tapinhas nas costas de Abbas, só legitimam as exigências de um líder que não condena qualquer ataque terrorista que custam vidas de israelenses, não aceita um estado judeu no Oriente Médio, exige que milhões de palestinos sejam transferidos para Israel próprio e não aceita que Israel fique com terra suficiente para se defender de um ataque árabe ou palestino no futuro.

Segundo, como vimos com o congelamento “temporário”, qualquer concessão feita por Israel se torna uma exigência permanente. Além disso, dá ao Hamas a vantagem de recomeçar os ataques de Gaza com impunidade pois no interesse da “paz”, Israel não irá retaliar.

Terceiro, ao concordar em fazer tudo em sigilo, sem transparência nas negociações, Netanyahu pode estar fazendo concessões diametralmente opostas ao interesse de seu eleitorado. Hoje não há consenso em Israel sobre entregar qualquer parte da Judéia e Samária depois do que aconteceu em Gaza.

Mas Israel continua seguindo a filosofia dos conselheiros de Obama que vêm o público em geral como Homer Simpsons incapazes de tomar decisões sábias. Eles, os tecnocratas de Washington sabem tudo e os simplórios israelenses têm que viver com as consequências do que está sendo negociado hoje.

A conclusão é que único incentivo para Abbas continuar sentado à mesa de negociações é o de levar ao enfraquecimento de Israel para aumentar as chances de vitória dos árabes numa futura guerra.

Por isso não concordo com estas negociações. Depois de todas as concessões que os palestinos obtiverem de Netanyahu, o que irá ocorrer é que os palestinos dirão que Abbas não tinha autoridade para assinar o acordo porque já não era presidente da Autoridade Palestina desde o final de Janeiro de 2009. Eles não precisarão cumprir qualquer obrigação mas Israel, aos olhos do mundo, terá que cumprir as suas. Além disso, Abbas e a Fatah não têm jurisdição para decidir o que quer que seja em Gaza, governada pelo Hamas, que foi eleito de modo democrático. Mas acima de tudo, não há qualquer sinal que Abbas esteja preparando seu povo para aceitar uma paz com Israel, muito pelo contrário. A retórica anti-judaica e anti-Israel na mídia oficial palestina escalou substancialmente desde a retomada das negociações. Certamente Abbas não quer entrar para a história árabe como o que assinou um acordo com Israel abandonando a reividicação da palestina do Mediterrâneo ao Jordão.

Netanyahu precisa ter em mente que o que o fez aceitar o congelamento temporário das construções judaicas na Judeia e Samária há 10 meses atrás, talvez hoje não seja relevante. Obama havia acabado de assumir o poder e tinha muita força política mas hoje não é mais assim. Nesta semana saíram os índices de aprovação do presidente americano que nunca estiveram tão baixos. Ele irá perder a maioria no Congresso e no Senado americanos e muito de sua força política. Assim, não há nada para Israel ganhar hoje e muito a perder a aceitar as exigências de Obama.

Se como Hillary Clinton disse, esta situação pode continuar pelos próximos 30 anos, vamos esperar até termos um verdadeiro líder palestino que esteja preparado a correr o risco, que prepare seu povo para conviver em paz com seus vizinhos e que acima de tudo, tenha a legitimidade de representação de todos os palestinos. Afinal, se como dizem, planejar à longo prazo no Oriente Médio é um mês ou dois, 30 anos poderá ser cheios de surpresas.

O que é importante agora é ganhar tempo e Netanyahu precisa saber usá-lo e evitar levar Israel no caminho da fraqueza e derrota.

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