Sunday, September 26, 2010

Nações Unidas, Ahmadinejad e O Fim da Moratória - 26/9/2010

O circo está novamente na cidade! Esta semana aqui em Nova Iorque tivemos a abertura anual da Assembléia Geral das Nações Unidas e junto com as ruas bloqueadas, trânsito caótico e protestos espalhados pela cidade, tivemos que engolir a presença de Ahmadinejad e seus intermináveis discursos.

Mas o pior é que o líder do Irã virou a vedete da mídia, conseguindo entrevistas com Christianne Amanpour na ABC, com Larry King na CNN e com a Fox News que será televisada hoje. Além disso, virou tradição ele oferecer um café da manhã para jornalistas dos maiores jornais americanos, como o New York Times, Washington Times e outros. E todos prontamente atenderam dando à ele uma plataforma para defender suas posições, em sua maioria, muito estranhas. Como disse um comentarista, o presidente do Uruguay não teria conseguido sequer chamar a atenção de qualquer destas emissoras.

Mas o que fez este ano a delegação dos Estados Unidos, de todos os 27 países da União Européia, da Austrália, Nova Zelandia, Canadá e da Costa Rica se levantarem e saírem da Assembléia Geral em protesto, foi a afirmação de Ahmadinejad de que o governo americano foi quem orquestrou os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York para reverter o declínio econômico da América e seus vassalos no Oriente Médio para salvar o regime Sionista (?????). Ele continuou dizendo que a “maioria do povo americano, assim como a maioria das nações e políticos no mundo concordam com este ponto de vista”.

E não parou por aí. Chamou Netanyahu de ditador (apesar dele ter sido democraticamente eleito pelos israelenses) e também de assassino de palestinos que deveria ser julgado num tribunal internacional.

Mais uma vez Ahmadinejad escolheu vomitar teorias vís e antisemitas que são tão esquizofrenicas e irracionais quanto previsíveis.

Obama, que já havia feito seu discurso respondeu numa entrevista que dizer que as próprias autoridades americanas foram responsáveis pelos ataques era odioso e ofensivo, especialmente pela declaração ter sido feita um pouco ao norte do local aonde ocorreram.

Ahmadinejad sem dúvida conseguiu o que queria. Suas várias oportunidades de fotos com dignatários do mundo inteiro e a adulação da mídia americana, sem dúvida, melhoraram sua imagem no Irã que já está sentindo os efeitos das sanções econômicas. Além disso, ao se lançar mais uma vez contra Israel, Ahmadinejad se manteve como o grande defensor da causa palestina acima de qualquer líder árabe. Fareed Zacharia da CNN perguntou se ele apoiaria um acordo que os palestinos decidissem assinar, e Ahmadinejad pareceu extremamente desconfortável com a pergunta. A resposta à questão é obviamente não, pois a continuação do conflito entre Israle e os palestinos muito o ajuda a alcançar suas ambições nucleares.

Mas foram as declarações de Obama sobre as negociações no Oriente Médio que causaram mais debate na mídia. Em uma das mais longas passagens de seu discurso, Obama descreveu a importância dos israelenses e palestinos chegarem à um acordo de paz, dentro dessas discussões diretas que ele ajudou a colocar em marcha.

No seu estilo tradicional de retórica, Obama disse que “desta vez precisamos pegar o que há de melhor dentro de nós” seja lá o que for que isto queira dizer. Se isto acontecer, de acordo com Obama “então voltaremos no ano que vem, teremos um acordo que levará à recepção de um novo membro das Nações Unidas – um estado da Palestina, independente e soberano, vivendo em paz com Israel”. É claro que isto lhe conferiu aplausos fervorosos.

Mas Obama também falou sobre a necessidade de Israel extender a moratória de construção dos judeus na Judéia e Samária pois ela fez diferença no chão e melhorou a atmosfera das discussões. Esta moratória expirou hoje à meia-noite mas os residentes da Judéia e Samária não estão vendo qualquer razão para celebração.

Isto foi uma manobra muito bem calculada por Abbas, apoiado por Obama que realmente acredita que nenhum judeu tem direito de construir em território pós-67. Durante os 10 meses negociados com Netanyahu, Abbas se recusou a sentar, esperando pelo último momento literalmente para dizer que se as construções resumirem ele abandonará as negociações. Isto é muita Chutzpah!
Durante estes 10 meses centenas de pessoas e companhias com contratos, com construções já autorizadas para começar ou em andamento, dando emprego a outras centenas de palestinos, tiveram que ser suspensas. Estas pessoas tiveram que alugar outra moradia, colocar seus filhos em outras escolas, pagar pelo material já comprado, e pagar advogados para receberem alguma forma de compensação pela decisão do governo de baixar a cabeça lamber as mãos de Obama. Mas esta situação não pode durar para sempre.

Além disso, o que pouca gente noticia é que há anos não há absolutamente nenhuma autorização para judeus construirem fora dos perímetros dos assentamentos já existentes e dentro destes perímetros só com ordem do ministro da defesa, o que, como devem imaginar, não é fácil conseguir. Portanto, não há problema de “tomada de terras adicionais” como reclamam os palestinos e há um consenso de que estes assentamentos ficarão em Israel. Tudo isto é pura desculpa para Abbas sair andando das negociações.

Apesar de Netanyahu ter dito que não irá extender a moratória, o noticiário está repleto de “soluções temporárias” oferecidas por Israel, como por exemplo, extender a moratória por só mais três meses, ou pelo menos não dar nenhuma autorização nova, deixando prosseguir as construções que já haviam obtido as permissões necessárias antes da moratória. Levando tudo isto em consideração, é como se a moratória continuasse de fato.

Se por um lado há a opinião de que uma declaração de Netanyahu terminando de vez a moratória seria um tapa na cara de Obama como expresso pelo insípido ex-cônsul de Israel em Nova York Alon Pinkas, há por outro, analistas respeitados de centro esquerda como Dan Margalit, que disse que há momentos em que palavra é palavra e que os palestinos precisam aprender o que é isto.

E aí temos Jerusalem, especialmente Jerusalem do Leste aonde há um congelamento total, que vai muito além da moratória e que não está baixo qualquer consentimento de Netanyahu. É um congelamento de fato, muito mais preocupante pois Netanyahu sempre negou aplicar a moratória à este lado da cidade.

Será que ao final a oferta que Olmert havia feito é a que foi tomada como ponto de partida para estas negociações? Olmert havia oferecido dividir Jerusalém, dar entre 93.5 e 93.7% da Judéia e Samária e o resto em terra de Israel própria e mais um corredor para Gaza, além de aceitar uns 20 mil refugiados e concordar em abandonar o Muro das Lamentações e a esplanada do Templo para um chamado consórcio de sauditas, jordanianos, palestinos, israelenses e americanos, como se algum destes “consórcios” já funcionou alguma vez no passado. Vide o exército da ONU no sul do Líbano e o corredor Philadelphi que deveria ser monitorado pela União Européia para evitar o contrabando de armas para dentro de Gaza.

Apesar de Netanyahu não estar amarrado a qualquer concessão feita por Olmert, é histórico o fato de que toda abertura por Israel, mesmo que temporária, vira algo permanente e exigido pela comunidade internacional. Com todas estas concessões contra uma mera promessa de que os palestinos viverão em paz com Israel, não há como ter esperança. Olmert disse que não há escolha para Israel.

Mas digamos que Israel diga não. Que não irá dividir Jerusalém ou sair da Judéia e Samária. Será que os Estados Unidos irão abandonar seu único verdadeiro aliado na região como Olmert diz? Ou então mandar tropas para forçar mais de 200 mil israelenses de suas casas? Isto é absurdo.

Todos nós sabemos que assim que Israel entregar a Judéia e Samária, elas virarão mais um foco de hostilidades e terrorismo contra Israel. Sempre haverá outra desculpa como vimos com Gaza que ainda diz que está sob ocupação. Se no entanto Israel não sair, suas cidades pelo menos a curto e médio prazo estarão seguras até que a situação mude ou a liderança palestina mude.

Esta idéia que é melhor Israel se colocar hoje nesta situação vulnerável porque no futuro não terá escolha, é ridícula. Quem se entrega ao seu assassino hoje porque  acredita que ele entrará em sua casa amanhã de qualquer forma?

Eu rezo e espero que esta ânsia para fazer a paz a qualquer preço, não deixando de mover nenhuma pedra, não cegue os líderes de Israel e dos Estados Unidos. Pois é só olhar para o Muro das Lamentações e saber que há algumas pedras que simplesmente não podem ser movidas.

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