Sunday, February 20, 2011

A Ilegalidade dos Assentamentos Israelenses - 20/02/2011

Numa ação muito preocupante esta semana, a embaixadora americana nas Nações Unidas Susan Rice, teria informado governos árabes e os palestinos que os Estados Unidos estariam prontos a dar à eles uma carta do presidente americano censurando a “atividade de assentamento” de Israel.


Os Estados Unidos teriam alegadamente concordado em declarar de que “não aceitam a legitimidade da contínua atividade de assentamento de Israel, que é um sério obstáculo para o processo de paz”. De acordo com várias reportagens, os Estados Unidos também concordaram em apoiar uma visita do Conselho de Segurança da ONU ao Oriente Médio, a primeira desde 1979, e se comprometeram em apoiar linguagem criticando os assentamentos de Israel numa declaração futura do Quarteto.

Mas isto não foi o suficiente. Os Palestinos se recusaram a aceitar este compromisso e exigiram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU declarando os assentamentos de judeus na Judéia e Samária “ilegais”. Ao final, os Estados Unidos não tiveram opção senão vetar a resolução. Apesar da fúria árabe e palestina contra os Estados Unidos, o dano a Israel está feito. Com apenas 2 anos no poder, Obama conseguiu alienar os árabes perdendo ao mesmo tempo toda a confiança dos israelenses.

E porque os palestinos querem que o mundo declare estes assentamentos ilegais? Porque eles querem que o mundo lhes dêem um estado sem que eles tenham que comprometer absolutamente nada numa mesa de negociação. Então, se estamos falando da legalidade dos assentamentos, vamos ver o que a lei fala. A lei internacional que lida com assentamentos é a Quarta Convenção de Genebra, que é o tratado internacional adotado em 1949 em resposta às atrocidades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Seu artigo segundo reza que a Convenção "se aplica a todos os casos de ocupação total ou parcial de território de uma parte contratante". A Autoridade Palestina nunca foi parte contratante da Convenção. Ela nunca teve um governo soberano no local e portanto, não pode dizer que territórios seus foram ocupados. Estes territórios haviam sido ilegalmente ocupados pela Jordânia depois do Mandato Britanico que os haviam administrados em lugar da Turquia.

Segundo, mesmo que esta Convenção de Genebra fosse aplicável, ela é direcionada a casos em que a força de ocupação deporta ou transfere parte de sua população para o território ocupado e conduz deportações da população local para outros territórios como fizeram os nazistas. Jamais houveram deportações e transferências e a presença milenar de judeus na Judéia e Samária nunca ameaçou a população árabe. Assim, estes assentamentos não contravêm a Convenção de Genebra.

Terceiro, mesmo que tudo isto não fosse verdade, não há nada na Convenção que proíba judeus ou membros de qualquer outra religião de voluntariamente comprarem terras na Judéia e Samária e formarem suas comunidades. O Mandato Britanico nunca discriminou entre judeus e muçulmanos para a compra de propriedade e é por isso que até os massacres de 1929, a cidade de Hebron, por exemplo, tinha uma larga população judaica. Por último, Israel tem um melhor título de propriedade sobre esta terra pelo fato dela ter ocupado este território numa guerra em defesa própria contra a Jordânia que já era uma força ocupadora ilegal, e o controle deste território é vital para sua segurança contra ataques futuros.

Há argumentos contrários, é claro, como por exemplo quem diz que o objetivo da Convenção foi de proteger pessoas e não território e que de qualquer forma, em 1967, Israel atacou primeiro, mesmo se para se defender de um ataque iminente, e portanto, ela era a agressora, e assim por diante. Interessante que em 2004, falei neste programa da descabida decisão da Corte Internacional de Justiça sobre a construção da cerca de separação de Israel que declarou os assentamentos ilegais. A Corte se ateve ao fato de que o Mandato da Palestina era para que os ingleses ajudassem a autodeterminação dos palestinos. Só que a corte esqueceu que na época, os palestinos eram os judeus pois os muçulmanos se registravam como árabes e nunca palestinos. Ela também desconsiderou totalmente a Declaração Balfour que corroborava esta posição e se referia à criação de um lar judaico. A decisão também desconsiderou as incontáveis e centenárias comunidades judaicas que existiram na Judéia e Samária. Mas apesar de dizer que os assentamentos de judeus são ilegais, a corte internacional de justiça se recusou a dizer que as fronteiras definitivas de Israel são as linhas de armistício da guerra de 1948. Como legalmente você pode acusar alguém de ter invadido uma propriedade que não está no nome de ninguém e nem tem limites demarcados?

Muitos na mídia e em Israel subestimaram a importância da oferta da carta do presidente Obama aos palestinos. Não é nenhum segredo que esta administração americana vê os assentamentos como um obstáculo para a paz. Não podemos esquecer que foi Obama que exigiu a suspensão de toda construção de judeus na Judéia, Samária e Jerusalém do leste, algo que Mahmoud Abbas nunca havia exigido para sentar na mesa de negociação.

Esta vontade americana de se distanciar de Israel e se dobrar pelo menos parcialmente às exigências palestinas de criticar Israel, seu maior e hoje provavelmente único aliado no Oriente Médio, é contrastada pela sua vontade de “engajar”, em vez de punir seus inimigos.

No mês passado, dando um verdadeiro chapéu no Congresso Americano, Obama decidiu nomear um novo embaixador para a Síria, um país que apoia terroristas e insurgentes que estão matando tropas americanas no Iraque e que apoia a Hezbollah no Líbano. A mesma Hezbollah que assassinou 241 soldados americanos em 1983.

De fato, a posição americana está totalmente dentro da deprimente política que Obama adotou desde o primeiro dia de seu governo, que é de se distanciar de seus aliados. Em janeiro, por exemplo, a Hezbollah fez cair o governo libanês de Sa’ad Hariri, um aliado americano, exatamente no momento em que ele visitava a Casa Branca. Tal fato não mereceu nenhuma resposta significativa do presidente americano. Depois de décadas de apoio ao presidente Hosni Mubarak, do dia para a noite ele foi abandonado pelos Estados Unidos.

Em Bahrain, aonde se encontra a Quinta Frota Naval Americana, Obama não apoiou as demonstrações e só pediu para as partes se absterem de violência, porque está preocupado com ataques à americanos. No Kuwait, aonde também existem bases americanas, a bagunça começou ontem, sem falar dos protestos diários e sangrentos na Líbia e Yemen. E os dois navios de guerra do Irã estão esperando receber o ok amanhã para atravessarem o Canal de Suez para o Mediterrâneo.

Apesar do desejo Americano de se colocar do lado correto da história e da pressão para uma mudança democrática, a falta dos Estados Unidos em proteger seus aliados ou de punir seus inimigos, envia uma mensagem problemática para os líderes brutais desta região sobre sua disposição, ou falta dela, de proteger os interesses israelenses no futuro.

A mensagem que Washington deveria estar enviando agora é que Israel é o único aliado americano estável, confiável e democrático neste Oriente Médio que está rapidamente se desestabilizando.

Especificamente sobre os assentamentos, os Estados Unidos deveriam reconhecer e fazer outros reconhecerem que o povo judeu não é um povo estranho à esta terra. Ele tem reinvindicações religiosas, históricas e hoje de segurança nacional sobre a terra bíblica da Judéia e Samária. Os Estados Unidos deveriam reconhecer e fazer outros reconhecerem que o recém fundado Estado de Israel fora atacado precisamente deste território nas primeiras duas décadas de sua existência, e mesmo assim, esta pequena ilha de soberania judaica em meio ao tirânico oceano árabe esteve sempre pronta a oferecer um compromisso territorial muito maior do que qualquer outro país num contexto normal de reconciliação.

A remarcável vontade de chegar à um compromisso mostrada por Israel em todos seus quase 63 anos de existência deveria ser apreciada por seus aliados que deveriam fazer de tudo para protege-la de seus inimigos e pressioná-los a uma solução que desse a Israel segurança e não a enfraquecesse.

Numa hora em que se torna cada vez mais claro que regimes repressivos, violentos e autocráticos são a maior fonte de instabilidade no Oriente Médio – e não a falta de uma resolução do conflito entre Israel e os palestinos que se mantém por causa da intransigência árabe – os Estados Unidos deveriam estar se colocando firmemente ao lado de Israel. Não é nada engraçado ler sobre propostas que implicam em mais deslegitimidade das necessidades históricas e de segurança de Israel.

O melhor que os Estados Unidos têm a fazer para promover a causa da paz entre Israel e seus vizinhos é ajudar as partes a vencerem suas diferenças na base dos direitos de todos, inclusive o direito dos judeus que vivem na Judéia e Samária. Todos os governos americanos tiveram interesse em uma resolução do conflito mas para funcionar, a solução deverá refletir a aceitação da paz pelos palestinos. Um posicionamento americano firme do lado de Israel, mostraria aos palestinos que negociar é o curso mais sábio.

Sunday, February 13, 2011

A Incompetência de Obama - 13/2/2011

Tivemos mesmo uma semana cheia e interessante. Todos os olhos estavam voltados para o Egito e a antecipação de uma resignação de Mubarak. Esperamos impacientemente seu discurso na quinta-feira mas o que ouvimos nos deixou de queixo caído. Com uma arrogância sem medida, Mubarak deixou claro que não iria sair. No dia seguinte, face à uma verdadeira revolta de um povo furioso, o exército lhe deu um ultimato: resignar ou eles dariam um golpe militar para remove-lo. A festa não poderia ter sido maior. A verdade é que todos nós que acompanhamos diariamente os protestos ficamos orgulhosos do que o povo conseguiu. Acho que não houve uma pessoa que não quisesse estar na praça Tahrir naquele momento.

Obama rapidamente felicitou as ações do exército e disse que continurá a ajudar o Egito. Ele reiterou que a América irá enviar 1.3 Bilhões de dólares em ajuda militar ao país neste ano.

A incompetência deste presidente americano é pavorosa. Antes mesmo de saber se o Egito cairá nas mãos dos extremistas islamicos ou não, Obama promete mais armas. Porque não transformar estes 1.3 Bilhões de ajuda militar em ajuda civil como por exemplo, fomentar a criação de empregos, ou apoiar programas que poderão realmente fazer diferença na vida do povo egípcio?

Mas a coisa não pára por aí. No final de janeiro houve um anúncio que passou totalmente desapercebido em face da revolução no Egito. A revelação de que o Paquistão dobrou seu arsenal de armas nucleares e hoje tem aproximadamente 110 bombas nucleares. Se isto for verdade, o Paquistão se tornou a quinta potencia nuclear, maior que a Inglaterra e a França. Além disso, o Paquistão também desenvolveu mísseis de até 2400 km de alcance para lançar estas bombas.

Nenhuma palavra da administração Obama sobre a proliferação nuclear do Paquistão. De acordo com David Albright, presidente do Instituto para a Ciência e Segurança Internacional, a administração americana subestima de modo flagrante o que se passa no Paquistão. Assim, enquanto sua economia está em ruinas, seu governo em pedaços e grande parte de seu território controlado pelos Talibans, seu programa nuclear está bem saudável.

O Paquistão é um dos maiores recipientes da ajuda americana. Em 2009, o Congresso aprovou um pacote de $7.5 bilhões de dólares para projetos civis e no ano passado, Obama propôs um suplemento de 2 bilhões para o exército paquistanês. Isto apesar de tudo mostrar que esta ajuda está sendo usada indiretamente para o programa nuclear.

Não é de espantar que o inspetor geral Americano publicou seu relatório esta semana dizendo que os $7.5 bilhões de ajuda não tiveram qualquer efeito no Paquistão.

Hoje, o governo paquistanês e seu exército têm uma posição radicalmente anti-americana e continuam a manter ligações com Al-Qaeda e os Talibans.

O Paquistão é outro desastre em curso que poderá ter proporções bíblicas. Sua enorme expansão nuclear, governo central fraco, população radical e pobre e um exército pró-islâmico, são ingredientes para uma situação perigosíssima.

Desde que assumiu a presidência, Obama se recusou a definir uma estratégia para lidar com a situação no Paquistão e no resto do Oriente Médio. De fato, sua administração baniu qualquer discussão sobre ameaças terroristas aos Estados Unidos. Barack Obama baniu o uso do termo “Guerra ao Terror” substituindo-o por “operação de contingência no exterior”. Seja lá o que isto for.



Em abril do ano passado, Obama também proibiu o uso de termos como “jihad”, “terrorismo islâmico” e “islamismo radical” em documentos oficiais americanos. Assim, imaginem um burocrata americano no Paquistão tentando descrever porque os membros de uma certa mesquita se recusam cooperar, sem usar estes termos. A cegueira chegou ao cúmulo esta semana, do diretor da Agência Nacional de Inteligência, James Clapper declarar ao Congresso americano que a Irmandade Muçulmana no Egito seria um movimento secular e não perigoso. Este é o mesmo James Clapper que numa entrevista em dezembro para a rede ABC de televisão, não sabia que terroristas haviam sido apreendidos na mesma semana na Inglaterra num mega plano de ataques.

A decisão de Obama de barrar linguagem relevante de documentos oficiais, foi sem dúvida motivada por ideologia. E ao escolher ideologia e não a realidade, colocou seus burocratas para definirem estratégias que ignoram e negam a realidade. E isto mostra ainda mais a incompetência deste presidente em relação ao Egito.

Desde o começo, Obama fez um esforço monumental para ignorar a instabilidade política no mundo árabe. Ele se curvou para o rei da Arábia Saudita, ignorando as flagrantes violações de direitos humanos no país. Ele se recusou a apoiar o movimento popular de liberação no Irã porque achou que traria Ahmadinejad para a mesa de negociação. Cortou programas conduzivos a alternativas liberais no Oriente Médio implementados pelo presidente Bush, para não parecer contrário a movimentos islâmicos como a irmandade muçulmana. Tudo isto teve um cunho ideológico, mas foram políticas que não funcionaram.

E assim que começaram as revoltas na Tunisia e no Egito, além do Yemen, Jordania e Algeria, a administração Obama correu para se colocar do “lado correto” da história.

Para evitar as críticas sobre seu relacionamento com ditadores árabes, Obama foi para o outro extremo se tornando o maior defensor da democracia no Egito. Mas ao faze-lo ele também teve que defender o direito da Irmandade Islâmica de participar de eleições livres e democráticas. A mesma irmandade que odeia os Estados Unidos e Israel, que quer impor um califato islamico mundial, que quer matar os judeus e liderar o jihad contra os países do ocidente. Tudo isto foi varrido para baixo do tapete pela administração Americana e pela mídia que a apoia.

Mas em nenhum lugar esta incompetência é mais evidente do que a obsessão de Obama com o estabelecimento de um estado palestino do lado ocidental do rio Jordão. Durante sua visita a Israel esta semana, o conselheiro em segurança nacional de Obama, o General James Jones, disse sem qualquer vergonha que era a vontade de Deus que Israel se retirasse para fronteiras indefensáveis e que a bagunça no Egito era resultante da falta de um estado palestino.

A coisa é tão louca que a citação precisa de Jones foi: “Eu acredito que Deus apareceu para o presidente Obama em 2009 e disse a ele que se havia uma coisa a fazer no planeta, e uma só coisa, para fazer este mundo um lugar melhor e dar às pessoas mais esperança e oportunidades para o futuro, seria algo em relação a encontrar uma solução de dois estados no Oriente Médio”. Ele continuou dizendo que “o tempo não está do nosso lado e nossa falha em estabelecer um estado palestino poderá causar outras demonstrações como as do Egito em outros países da região.” O pior é que logo em seguinda, o representante da OTAN, o ministro do exterior inglês e a chefe da política exterior da União Européia, todos repetiram as palavras de Jones. Aonde estamos? O que estes luminários beberam?

Israel tem poucas opções para confrontar este ataque à razão da administração Obama. As ameaças a Israel são claramente resultantes do jihad, do terrorismo islamico e da aventura nuclear adotada por políticos e líderes islâmicos. Em outras palavras, são ameaças que a administração Obama escolheu ignorar e negar.

A obsessão deste governo em forçar Israel a renunciar a mais territórios para a Autoridade Palestina é acompanhada pela cegueira de quem e o que os líderes desta Autoridade Palestina representam para seu povo e como governo. Foi publicada esta semana que estes mesmos líderes que aplicam toda a repressão possível em sua população, pediram e receberam o passaporte e nacionalidade Jordanianas. Claramente, Abbas e sua gang não acreditam que conseguirão vencer o Hamas na Judéia e Samária. Mas isto é totalmente negado e desconectado na cabeça dos Europeus e Americanos em sua obsessão.

Precisamos de líderes que irão nos proteger dos perigos semeados por esta estratégia demente de Obama que irá sem dúvida provocar uma guerra num futuro próximo. Em 1973, havia uma demencia de Nixon que contagiou Golda Meir e seu governo. Isto causou a perda de mais de 2 mil israelenses na guerra de Yom Kippur. Hoje, com estes governos radicais islamicos com a bomba nuclear no bolso, Israel não pode cair na mesma armadilha. Ela precisa falar a verdade alto e claro mesmo se perder amigos na administração Obama e na Europa. Mas isto irá prepará-la para o dia em que todas estas mentiras serão desmascaradas, do Paquistão ao Cairo, do Irã a Ramallah.

Wednesday, February 9, 2011

Egito... A continuação - 6/2/2011

Todos nós sabiamos que cedo ou tarde, de um modo ou de outro, Israel iria ser culpada pelos protestos ocorrendo no mundo árabe. Só não sabíamos quem iria conseguir este feito. Afinal, é óbvio que as demonstrações – da Tunísia ao Yemen, passando pela Algeria, Jordania e Egito, começaram espontaneamente por razões nada a ver com Israel. Elas começaram com um jovem Tunisiano de 26 anos que se ateou em fogo em dezembro porque, apesar de ter acabado a faculdade, só conseguia ganhar a vida vendendo legumes na rua. A gota final veio quando a policia confiscou seus legumes dizendo que ele não tinha licença. Ele morreu das queimaduras e virou um símbolo para todos aqueles que apesar de terem estudado não conseguem um lugar ao sol no mundo árabe.

Estes protestos desnudam o argumento que todas as tensões no Oriente Médio são causadas por Israel. Longe de estarem com ódio do estado judeu, os participantes dos protestos talvez inconscientemente, estão furiosos e frustrados precisamente porque seus países não são mais parecidos com Israel – que são tão sem liberdades, com tanta resistência à uma participação genuína do povo no governo, com tão poucas oportunidades economicas, tão injustos.

Apesar de vermos hoje exemplos de sentimentos anti-Israel, não havia nada assim nos primeiros dias dos protestos no Egito. Não havia nada anti-americano tão pouco. De fato, muitos queriam deixar claro que os protestos não eram contra o ocidente. Eram contra um tirano corrupto, um déspota determinado a ficar no poder, sem ligar para o sentimento e a vontade do povo.

Mas…. Mas…. O presidente da Síria, Bashar Assad, logo encontrou uma maneira de jogar pelo menos parte da culpa do caos na porta de Israel. Numa entrevista no Wall Street Journal na segunda-feira, ele explicou com sua tradicional arrogância, que o seu regime era “estável” porque sempre se manteve proximamente ligado às crenças do povo. Isto, para ele é o fundo da questão. Assim, de acordo com ele, a causa dos protestos na Jordania e Egito foi a paz que fizeram com Israel e seus governos estão pagando o preço. Isto é de uma incoerência suprema para este pilar da democracia que ele não é.

Assad vem de uma seita minoritária, os alawitas, que não tem qualquer apoio do público. Ele herdou a presidência de seu pai somente por causa de nepotismo (e porque seu irmão mais velho morreu num acidente de carro). Chegou ao poder através de eleições presidenciais como candidato único e retém o poder somente porque a oposição morre de medo que ele faça como o seu pai fez, há 29 anos atrás quando arrasou a antiga cidade de Hama por sua oposição islâmica.

É irônico, ouvir de um tirano como ele que seus irmãos árabes autocratas tenham posto em perigo seus regimes porque não respeitaram a vontade do povo!!! Seria muito doce se os esforços coordenados pelo Facebook na Síria conseguissem levar o povo à rua e desmascarar este déspota. Porque estes governos estão vendo que não é tão fácil mandar o exército para a rua para atirar em milhares de pessoas.

É para refletir muito o fato do Oriente Médio estar tão desestabilizado, com o Egito imerso em protestos sem fim, o rei da Jordania ter dissolvido seu gabinete em meio a protestos, o Hamas governando Gaza e pronto para explorar qualquer vacilo de Mahmoud Abbas na Judéia e Samária, e o Irã controlando o Líbano através da Hizbullah. O regime totalmente intolerante de Assad é aparentemente o mais estável da região. Por agora.

Do ponto de vista de Israel, é deprimente. Depois da paz com Egito assinada em 1979, acreditávamos que Israel havia tomado o primeiro passo para a normalização com seus vizinhos. O segundo passo, a paz com a Jordânia em 1994, confirmou o sentimento, junto com a abertura de várias representações em países do Golfo árabe e Marrocos.

Houve também um momento, depois do assassinado de Rafik Hariri em 2005 no Líbano que se esperava uma democratização do país. Houve outro momento em 2009 quando esperamos que o povo do Irã iria chutar os mullas do governo. E houveram outros momentos em que tinhamos certeza de estarmos próximos de uma paz com a Siria e os palestinos. Hoje, a corrente virou e as esperanças de Israel estão se desfazendo.

Neste momento, estamos num processo histórico paralelo ao pós 1979. O processo que viu o Egito de Sadat assinar a paz com Israel e o Irã ser jogado numa ditadura islâmica fundamentalista. Esta mesma ditadura que coordenou a morte de Sadat, que criou o Hamas e o sufocou o Líbano. O processo que viu a Turquia se distanciar do ocidente e a irmandade islâmica procurar tirar vantagem da bagunça no Egito para tomar o poder, repetindo o feito do Irã de 32 anos atrás. O processo que culminou no Irã próximo da bomba nuclear.

Não há cultura de democracia no Oriente Médio e estas mudanças mostram que não podemos mais esperar calma com o Egito e a Jordania. No caso do Egito, com todas as armas sofisticadas fornecidas pelos Estados Unidos, ele será uma ameaça estratégica genuina. Israel hoje tem que estar em alerta vermelho em todas as suas fronteiras.

Na semana passada falei de como Obama havia se comportado mal em relação ao que estava se passando no Egito, totalmente jogando um aliado dos Estados Unidos aos cães. Depois de uma semana tentando convencer Mubarak a sair do governo, ontem, seu enviado à região disse que talvez fosse melhor Mubarak ficar até completar a transição. Esta ambivalencia é mais do que tudo prova de que Obama não sabe o que está fazendo em política externa. Obama não queria se ver do lado errado da história, nem de ter abandonado as massas de egípcios que exigem democracia e as liberdades que os americanos têm. Mas a posição firme que eu advoguei na semana passada, de ficar do lado de Mubarak e ao mesmo tempo exigir dele novas eleições e reformas, hoje não se aplicam.

A América de Obama subestimou o perigo da Irmandade Islâmica que é extremamente flexível e paciente, e sabe quando usar a violência ou tomar o poder. Hoje Hilary Clinton disse que é possível conversar com a Irmandade para inclui-los no processo democrático. O que ela parece esquecer é a antipatia que a Irmandade muçulmana tem pela democracia, pela igualdade e tolerância e seu brutal anti-semitismo e hostilidade a Israel.

Os Estados Unidos deveriam ter deixado bem claro que grupos assim não poderão ser incluidos num próximo governo egípcio – e depois de falhar com o povo iraniano em 2009, deveria fazer de tudo para encorajar a liderança secular e moderna no Egito. Deveria ainda ter deixado claro que para continuar recebendo a ajuda de bilhões de dólares dos Estados Unidos, que todos os partidos deverão se obrigar a manter os tratados passados inclusive o de paz com Israel e se comprometerem a combater o Hamas. Em vez disso, a Casa Branca escolheu encorajar a “representação democrática” seja lá o que isso for incluindo “partidos não seculares” em claro apoio à Irmandade islamica.

E enquanto a America está tropeçando em seu caminho para alcançar os eventos, o Irã, vendo as coisas penderem para o seu lado está nos dando uma lição de cinismo político. Menos de 2 anos após ter rolado por cima de seus demonstradores, enforcando dezenas deles em praças públicas, Teherã está apoiando e elogiando a coragem, o espírito e a legitimidade do povo egípcio.

Da perspectiva Israelense, estes eventos mostram sua vulnerabilidade. Territorial e demograficamente reduzida pelos vizinhos, Israel não mais tem aliados na região e não muitos além dela. A Europa aceitou a mentira das “fronteiras de 1967” para um estado palestino e a administração Obama pelos seus atos e pressões nos últimos dois anos mostrou a mentira das promessas de campanha, do vínculo inquebrável da América com Israel.

O que estes protestos mostraram é que os árabes podem não gostar de israelenses e seus assentamentos na Judéia e Samária. Eles podem não gostar de judeus em geral. Mas parece que eles gostam menos ainda de terem suas vidas definidas e arruinadas por ditadores.

Talvez se os países do ocidente estivessem menos obscecados com assentamentos e boicotes a Israel e tivessem olhado o que estava se passando na Tunisia, Yemen, Jordania e Egito, eles tivessem visto os sinais de perigo e teriam encorajado reformas para ajudar o povo.

Mas nestes dias e semanas de tumulto regional, ficam evidentes os riscos de fazer concessões na esperança em vez de na certeza de obter a paz, o risco de negociar com regimes que não têm uma genuína legitimidade ou a capacidade de honrar a longo prazo acordos assinados. Será que os líderes no ocidente ainda acreditam que a melhor política é pressionar Israel a se retirar para as linhas de armistício de 1948 – agora que está cercada pelos brutos da Síria, os libaneses controlados pela Hizbullah, o regime incerto da Jordania, o Hamastan de Gaza e um Egito totalmente imprevisível?

Será que não está na hora destes países mostrarem um pouco de humildade e repensarem sua política no Oriente Médio? Será que eles não podem por uma vez ouvirem atentivamente as preocupações israelenses? Em março de 1979 Israel assinou a paz com o Egito. Em abril do mesmo ano o Irã se tornou uma republica islamica. Agora, mais do que nunca, temos certeza que irá ser o evento do Irã e não a paz com o Egito que irá definir o curso da história no Oriente Médio.

Tuesday, February 1, 2011

A Crise no Egito - 30/1/2011

Os eventos deste final de semana no Egito são extremamente preocupantes. Não há qualquer posição que a administração Obama possa tomar que irá resolver o problema completamente mas tudo o que o presidente Americano fez até agora, foi o pior possível.


Esta é a primeira crise internacional de Obama e em vez de tomar uma atitude decisiva ele se reune com conselheiros e representantes do Departamento de Estado dia após dia, enquanto o regime de Mubarak é simplesmente chutado para fora do Egito. A situação não poderia ser mais perigosa e este pode ser o maior desastre para a região e para os interesses do ocidente desde a revolução iraniana, 30 anos atrás.

Peritos e a mídia têm sido muito otimistas e não estão analisando o assunto com seriedade. O cenário mais provável não é sequer mencionado: que esta revolução possa levar o Egito a se tornar radicalmente islâmico, se não agora, em alguns anos.

Jornalistas mostram seu entusiasmo quando dizem que as demonstrações são espontâneas e sem liderança definida, mas são precisamente situações de vácuo político que dão a oportunidade para grupos bem organizados, tomarem o poder.

Será que a nomeação de um novo vice-presidente, Omar Suleiman, o eterno chefe da inteligência e de um novo primeiro ministro, Ahmed Shafiq, líder da Força Aérea, irá estabilizar a situação? Nomear alguém que organizou a repressão do país, não é exatamente um passo em direção à democracia.

Existem duas possibilidades básicas: o regime irá se estabilizar com ou sem Mubarak ou o poder estará disponível para quem abocanhá-lo primeiro. Há vários precedentes para a segunda situação como a revolução iraniana em que cidadãos do país foram para as ruas para exigir liberdade e hoje têm Ahmadinejad como presidente. De fato, nunca, nunca houve um movimento revolucionário de país muçulmano que gerou um governo pro-ocidente ou democrático. Lembrem as demonstrações em Beirute para exigir liberdade e hoje é a Hizbullah quem manda no Líbano. Lembram do movimento democratico entre os palestinos e eleições livres? Os palestinos escolheram e hoje é o Hamas que está no poder em Gaza. Isto para não falar do movimento democrático na Algéria em que dezenas de milhares de pessoas foram mortas.

Uma pesquisa recente do Pew poll mostrou que 59% dos egípcios favorece os islamistas e somente 27% quer os modernistas no poder. O problema é o seguinte:

De um lado, todo o mundo sabe que o President Husni Mubarak representa a continuação de um governo que tomou o poder no Egito em 23 de julho de 1952. Desde então, os egípcios vem sendo governados de modo despótico e com muita corrupção e repressão. Por outro, Mubarak deixa muita propaganda anti-americana ser disseminada nos órgãos oficiais do governo; ele não apoiou a América nas sanções contra o Irã e tem se esquivado dos planos de paz entre Israel e os palestinos.

Mas apesar de tudo, a perda do Egito será uma tremenda desfeita para os Estados Unidos. Além disso, qualquer governo populista, islamico ou nacionalista, poderia reacender o fogo no conflito árabe-israelense. É bom lembrar que a Guerra do Sinai em 1956, a Guerra dos Seis Dias em 1967 e a Guerra de Yom Kippur em 1973, foram todas lideradas pelo Egito.

Assim, se por um lado os Estados Unidos têm interesse na sobrevivência deste regime com ou sem Mubarak, por outro Obama quer mostrar que ele apoia reforma e democracia para que o próximo lider do país veja os Estados Unidos com simpatia. Esta a posição “pró-democracia” é baseada na crença de que o Egito irá produzir uma liderança moderada, democrática e pró ocidente, mais resistente à um desafio islâmico. Alguns na administração chegaram a dizer que a irmandade islâmica nem seja uma ameaça real!

Obama disse que sempre avisou Mubarak de levar reformas políticas e econômicas à frente; que a violência não é resposta para resolver os problemas do Egito e que o governo deve ter muito cuidado ao usar a violência contra pessoas nas ruas; Obama ainda condenou o corte nos meios de comunicação e internet dizendo que a liberdade de expressão e de comunicação são necessários para que as pessoas expressem suas preocupações.

Como sempre para Obama, no papel tudo é lindo: Mubarak faz a reforma; a oposição não usa violência e tudo acaba bem. Infelizmente, este cenário não tem nada a ver com a realidade. Se Mubarak fizer o que Obama quer, ele irá cair e não há ninguém para tomar seu lugar. O povo nas ruas do Egito quer liberdade, mas como vimos nas eleições do Irã no ano passado as demonstrações do povo que também queria liberdade e Obama não fez nada a respeito.

Não importa o que os Estados Unidos disser ou fizer agora, não irá obter a gratidão de milhões de egípcios. Os novos líderes, culparão a América por seu apoio à Mubarak, sua oposição ao islamismo, seu apoio a Israel, a influência cultural, e por não ser um país muçulmano. Não pensem que o único problema dos Estados Unidos é o seu apoio a Israel.

Nunca podemos esquecer a história. Vejam o que aconteceu no Irã em 1979. Na ocasião, os Estados Unidos fizeram exatamente o que Obama está fazendo hoje: anunciar o apoio ao governo mas exigindo dele reformas. O Shah não partiu para a repressão do movimento porque em parte, sentiu que não tinha o apoio americano. A revolução cresceu e o regime caiu. A mídia na época era unânime ao dizer que o povo iraniano era educado e que a revolução seria moderada, que os islamistas não venceriam. É, vimos o resultado.

Não há um movimento moderado organizado no Egito. O único grupo moderado, Kifaya foi tomado pela irmandade islâmica. Hoje é liderado por Abdel Wahhab al-Messiri um antisemita virulento. Isto não quer dizer que não há moderados, pró-democracia no Egito. Mas eles não têm nem dinheiro, nem poder ou organização. De fato, o Egito é o único país árabe em que os democratas se uniram aos islâmistas pensando erroneamente poder domina-los se tomarem o poder. A realidade é que não há hoje qualquer movimento que possa realisticamente competir com os islamistas.

Um estudo da Irmandade no parlamento egípcio mostra como eles são radicais. Eles querem um estado islamico governado por Sharia e em Guerra com Israel e os Estados Unidos. Mas a grande massa da mídia argumenta que a Irmandade no Egito nunca se envolveu com terrorismo. Mas por que será? Porque toda a vez que eles tentaram incitar a violência, eles foram duramente reprimidos, seus líderes enviados a campos de concentração, torturados e mortos.

A elite do país quer se salvar e se tiver que sacrificar Mubarak, que assim seja. Mas se houver um vácuo na liderança, será muito ruim. Provavelmente o que irá acontecer é que o novo governo irá ganhar apoio através da demagogia: eles culparão a América e Israel e irão proclamar que o islamismo é a resposta. É assim que tem acontecido no Oriente Médio como vimos no Líbano e em Gaza. Nos dois, movimentos pela democracia produziram regimes islâmicos, anti-democráticos, que endossam o terrorismo aliados do Irã e da Síria.

A ênfase da política Americana deveria ser de apoiar o governo egipcio incondicionalmente. Os líderes no Cairo não podem ter qualquer dúvida que os Estados Unidos está do seu lado. Se for necessário mudar a liderança, o governo Americano pode ajudar o processo atrás das cortinas. Mas até agora, o que Obama tem feito, é exatamento o que Jimmy Carter fez quando da revolução iraniana em 1978. Obama mostrou que Washington não mais apoia o governo egípcio.

Sem a confiança para resistir esta revolta, o sistema egípcio entrará em colapso, deixando um vácuo que não irá ser preenchido por amigos do ocidente. Isto poderá ser potencialmente desastroso para os Estados Unidos e para o Oriente Médio. A Jordânia já está sentindo o começo de uma revolta em seu país e até a Arábia Saudita teve que lidar com protestos neste final de semana.

A maioria da mídia diz que um governo islâmico anti-americano, aliado ao Irã e pronto para recomeçar a Guerra contra Israel não poderá tomar o poder no Egito. Esta análise é um risco grande demais para aceitarmos, especialmente vindo daqueles que estiveram tão errados no passado.