Sunday, October 16, 2011

Não é Questão de Preço - 16/10/2011

O que geralmente vemos nos nossos dias, são pais orgulhosos das realizações e feitos de seus filhos. Mas se alguma vez houve ocasião em que um Filho tivesse que ficar imensamente orgulhoso dos pais, esta ocasião acontecerá esta semana. E Gilad Schalit será este filho.


Após voltar e se inteirar do que ocorreu nestes últimos 5 anos e quatro meses ele saberá que nunca houve na história uma familia tão persistente, que lutou com tanta tenacidade para ter seu filho de volta como a dele. E isto, sem nunca esquecer dos outros 6 desaparecidos: Ron Arad, Zecharya Baumel, Zvi Feldman, Yehudah Katz, Guy Hever e Majdy Halabi.

Desta vez foi diferente. Muitos perguntaram o que eu achava do preço que Israel iria pagar pela vida de Gilad Schalit. Minha primeira reação foi que esta troca não era uma questão de preço.

Por cinco longos anos, cada dia, cada hora, estes pais devotaram todas as suas energias para a soltura de Gilad, viajando o mundo, implorando a líderes de países, indo para as Nações Unidas e até aturar o ombro gelado de Jimmy Carter quando pediram à ele falar com o Hamas.

E depois de meses de frustrações e decepções, eles prometeram que não deixariam a tenda que eles e centenas de voluntários eregeram na frente da residência do primeiro ministro de Israel até que Gilad retornasse para a casa. Devagar, este acampamento começou a atrair ônibus de escolares, sinagogas ofereciam preces do sábado no local e muitos organizavam refeições com longas mesas para que a familia Schalit não estivesse só.

Ninguém pode negar o sofrimento desta familia por todos estes anos. Não houve uma só casa em Israel ou um só lar judaico no mundo que não simpatizasse com sua causa e sofrimento. Como judeus, nosso conceito de responsabilidade mútua é algo impregnado em nossa consciência. O sofrimento da familia Shalit é o nosso sofrimento coletivo.

E ainda assim, a liberdade tem um preço. A causa da liberdade para o povo judeu como um todo exige um sacrifício maior de algumas familias. Desde os acordos de Oslo em 1993, quase 2 mil israelenses perderam suas vidas, pagando o ultimo preço pela liberdade do povo judeu.

Como David Hatuel que teve sua mulher Tali grávida de 8 meses com seu primeiro filho homem e suas 4 filhas Hila, de 11 anos, Hadar de 9, Roni de 7 e Merav de 2 anos, todas baleadas à queima-roupa em 2004. Ou Deborah Applebaum que em vez de dançar no casamento de sua filha Nava, teve que enterrar seus pedaços junto com os de seu marido David, mortos por um homem-bomba num Caffe em 2003.

E porque não falar de Shvuel Schijveschuurder, que teve que crescer sem os pais e três irmãos mais novos, mortos no famoso ataque por homem bomba da pizzaria Sbarro em 2001. Hoje ele está sendo acusado de jogar tinta no Memorial de Itzhak Rabin. Os planejadores e a mulher palestina que dirigiu o carro que levou o suicida até o local estão na lista para serem soltos contra Gilad Shalit apesar de terem recebido várias penas de prisão perpétua.

Estas vidas foram roubadas pelo terrorismo árabe simplesmente porque eram judeus vivendo em Israel. E em muitos dos casos, estes assassinos se beneficiaram de um modo ou de outro de trocas como esta por Gilad Shalit. A motorista que levou o terrorista até a pizzaria, quando foi presa, disse que não estava preocupada pois sabia que iria sair mais cedo ou mais tarde, seja por uma troca ou pela violência de ataques que estavam por vir.

Outros que irão ser soltos são os planejadores dos ataques ao Cafe Moment que matou 12, os do massacre da Pascoa ao Park Hotel em Netanya que matou 30 e muitos outros, todos cumprindo várias prisões perpétuas por terem planejado e mandado terroristas se explodirem em restaurantes, ônibus, hotéis e universidades. Estes são assassinos em série que em muitas outras democracias, como aqui na América, teriam recebido a pena de morte há muito tempo.

Não há como negar que este acordo com o Hamas foi escrito com o sangue das vítimas passadas e provavelmente das futuras. Não é preciso ser profeta para afirmar que a soltura de 1.027 terroristas levará a mais ataques e mais israelenses mortos.

E o que aconteceu agora para este acordo sair? A única coisa que mudou foi o levante do povo sírio contra seu líder, Bashar Assad, protetor do Hamas. De fato, a liderança deste grupo terrorista está vendo maneiras de sair da Síria e se mudar para o Egito que hoje está abertamente massacrando cristãos e apoiando a irmandade muçulmana.

De acordo com uma reportagem do Canal 2 de Israel, além da liberdade para estes mil prisioneiros, Israel teria garantido a passagem dos líderes do Hamas da Síria para o Egito. Se isto for verdade, este acordo poderá ter consequencias muito mais sérias para Israel do que o pensado.

Assim, é injusto castigar os que votaram e são contra este acordo. Há uma lógica que não pode ser negada. São mil por um. A desproporção do número de terroristas e a gravidade de seus atos, leva a sentir uma fraqueza por parte de Israel. A impunidade que vem com esta comutação de pena para a liberdade, manda uma mensagem de encorajamento à estes terroristas para continuar matando inocentes e sequestrarem mais soldados. Soltar apenas um terrorista destes teria sido um preço alto demais.

Mas apesar disto há um consenso nacional em Israel para conseguir a volta de Schalit. E este consenso não tem nada a ver com o preço. Os Israelenses lidam com ameaças todos os dias. Há tentativas de ataques constantemente que são evitadas seja por atos da inteligência ou por meros cidadãos alertas. Estes que foram soltos e deportados a outros países vizinhos estarão nos radares de todos os serviços de inteligência do mundo e os que ficarão terão que olhar por cima do ombro toda a vez que saírem de casa.

O líder do Hamas Ismail Hanyeh já prometeu nesta sexta-feira que Schalit não será o último soldado a ser sequestrado e que se hoje ele tem os prisioneiros, amanhã será a mesquita de Al-Aksa que fica no monte do Templo em Jerusalem. Mas ouvimos isto dele todos os dias.

O Hamas já tentou sequestrar outros soldados israelenses depois de Gilad Schalit. E a fronteira com o Egito hoje está mais porosa do que nunca.

O que tem de único sobre Israel, que a diferencía de qualquer outro país na terra, é que ela nunca deixa um soldado ferido para trás e seus filhos e filhas sabem que mesmo se eles forem jogados no mais escuro dos calabouços, no fundo da terra, seja aonde for – nenhum esforço será poupado para conseguir traze-los de volta. E para isto, nenhum preço é alto demais.

Israel ficou até o fim do lado dos Schalits porque é isto que os pais e as mães, os soldados e os jovens que estão para começar seu serviço militar precisam ouvir. Que estamos do seu lado para o que der e vier. Isto também manda uma tremenda mensagem de força e união nacional.

Israel é o país no qual os generais dizem famosamente: sigam-me. Se alguém tiver que ser alvejado, o general não deixará a bala ferir um de seus meninos.

Se Schalit tivesse sido abandonado, mais do que uma vida humana teria sido jogada fora. Também teria desaparecido a fé dos pais e a confiança dos soldados em seu próprio código militar que faz deste exército a força que é.

No caso de Gilad Schalit, este acordo é uma reafirmação dos princípios da santidade da vida humana, do comprometimento do povo de Israel para com aqueles que estão defendendo seu país e suas famílias no sentido mais básico e fundamental.

Assim, apesar de tudo, não é uma questão de preço. E estaremos todos torcendo, felizes e emocionados para que nesta terça-feira a troca se passe bem, sem incidentes, e que possamos receber Gilad Schalit em nossos braços e comemorarmos um inesquecível Simchat Torah.

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