Sunday, December 4, 2011

A Vitória Salafista no Egito - 4/12/2011

Os resultados das eleições esta semana no Egito quase não foram surpresa. A Irmandade Muçulmana ganhou 45% dos votos e não há dúvida que serão eles os novos senhores do Egito. Ao todo, os partidos islâmicos deverão obter entre 60 e 65% dos votos.

A única surpresa mesmo foi o resultado obtido pelo partido Al-Noor ou "A Luz", dos salafistas. Estes são os radicais islâmicos do estilo dos Talibans, que obtiveram 20% dos votos, o mesmo que todos os partidos cristãos e moderados liberais juntos. Este movimento que foi largamente subestimado, gerou Ayman Al-Zawahiri, o mentor de Osama Bin Laden e hoje líder da Al-Qaeda.

Com o partido Nacional Democrático do ex-presidente Hosni Mubarak banido das eleições e os liberais em confusão, os únicos partidos que se mostraram suficientemente organizados para uma campanha eleitoral agressiva, são os islâmicos.

O processo eleitoral egípcio é muito complexo e hoje muitos eleitores se sentem inundados por um sem número de partidos e candidatos que não existiam antes da saída de Mubarak,  9 meses atrás. Cada distrito recebe dois assentos no parlamento mas um terço deles são reservados para candidatos individuais e o resto aos partidos. Para complicar, um dos assentos reservado a cada partido tem que ir para um “profissional” e o outro para um “trabalhador ou camponês”.

Com um número de 122 candidatos, a grande maioria ilustres desconhecidos, fica mais fácil para o eleitor olhar para a lista dos partidos que são 16, incluindo o salafista Al-Noor fundado no final de Janeiro. E porque os salafistas tiveram tãos bons resultados e esperam ainda melhores nas próximas rodadas? Porque o eleitores os vêem não como um movimento político mas como um movimento religioso. E eles têm uma base engajada e disciplinada.

Mesmo se eles obtiverem apenas 10% dos votos, será uma grande vitória. Eles foram perseguidos e presos sem dó pelos militares e não existiam na política há um ano atrás. Se eles conseguirem se juntar ao segundo ou terceiro maior bloco no parlamento isto será um grande feito para eles. De qualquer forma, eles terão um papel importante na futura liderança do Egito.

Enquanto isso, os liberais não estão indo bem. A questão é quão ruim será sua performance no resto das eleições. Os jornais egípcios estão dizendo que se os liberais, que incluem os cristãos coptas, conseguirem 10 a 15% dos votos, isto também será uma vitória para eles.

Mas ser liberal hoje no Egito é um stigma. Ser liberal significa ser anti-islâmico.

Num país aonde o povo está ficando cada vez mais conservador do ponto de vista religioso e quer que o islamismo tenha um papel maior em sua vida, não há como ser otimista sobre o futuro político dos liberais. A única coisa que poderia mudar isso é a economia.

A situação econômica do Egito está indo de mal a pior. O grande gerador de renda o turismo, hoje praticamente acabou. Se os liberais forem espertos, vão apresentar soluções econômicas práticas que os eleitores possam entender. Esta é uma área que os islamistas não têm preparação.

Em Israel, autoridades do governo expressaram preocupação que um parlamento egípcio com uma maioria islamista irá abalar suas relações já bastante tênuas. Na semana passada o primeiro ministro Benjamin Netanyahu disse que as revoluções que estão acontecendo no mundo árabe não estavam se dirigindo para o progresso e liberalismo, mas produzindo uma onda islâmica, anti-ocidente, anti-liberal, anti-Israel e anti-democrática”.

Mas o sentimento anti-Israel não é só devido aos islamistas. Os anos de propaganda e posicionamento anti-Israel da mídia levaram o povo egípcio a odiar Israel, e qualquer novo governo eleito no país terá que endurecer suas relações com o estado judeu.

A irmandade muçulmana nunca irá aceitar a existência de Israel especialmente tendo em vista o patrocínio do Irã. Pode ser que num primeiro momento a irmandade não tenha a vontade de cancelar de vez o acordo de paz para não se indispor com o ocidente de quem o Egito depende economicamente. Mas haverá uma grande chance deles quererem renegociar certos aspectos ou encontrarem maneiras de limitarem o impacto ou a operacionalidade do acordo de paz com Israel.

Por outro lado, a Irmandade Muçulmana pode ser mais pragmática em política externa que os partidos de esquerda ou os nacionalistas. Por causa de sua história e credenciais fortemente anti-Israel, a Irmandade não precisa ficar compensando. O que vemos com os partidos não-islâmicos é que eles têm que demonstrar constantemente que são anti-Israel para contrabalançar as acusações de serem pró-ocidente, pró-Estados Unidos.

Em política externa no Egito, não há diferença entre os partidos islamistas e os não-islamistas. Eles são todos contra Israel.

Enquanto isso, o presidente Barak Obama enviou uma nota congratulando o Egito pelas eleições e seus conselheiros da esquerda, já foram à frente dizendo que os salafistas são inofensivos, apenas muçulmanos religiosos. Seu estilo de vida comparado com a comunidade Amish nos Estados Unidos.

Mas os salafistas não são Amish. Estes conselheiros de Obama subestimam e desfazem dos objetivos deste grupo: imposição da sharia com a consequente repressão às mulheres e gays, ódio e discriminação aos não-muçulmanos, execução sumária de muçulmanos que se convertem a outras religiões, e jihad para a expansão do islamismo radical num califado mundial. Mas acima de tudo, o uso do terrorismo como forma legítima de alcançarem estas metas.

Com os resultados das eleições nas próximas semanas, seria muito ingênuo subestimar a capacidade dos salafistas. A vitória dos radicais islâmicos é agora uma realidade no Egito. É... A democracia pode ser muito amarga às vezes.

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