Sunday, March 31, 2013

A Cavalgada do Sultão Erdogan - 31/03/2013


Durante a visita de Obama na semana retrasada notei que já haviam sinais da pressão que será colocada em Israel nos próximos meses.

Netanyahu, contrariamente a todas suas declarações passadas, pegou o telefone na frente do presidente americano e ligou para Recip Erdogan, primeiro ministro da Turquia para se desculpar pelo incidente da flotilha para Gaza em maio de 2010 que deixou 9 mortos, 8 deles cidadãos turcos.

As reações de líderes do ocidente foram todas positivas. Angela Merkel, a chanceler da Alemanha disse que havia sido um passo correto e corajoso. O primeiro ministro da Inglaterra, David Cameron, louvou Netanyahu.

Em Israel, no entanto, a reação foi outra. Avigdor Lieberman, ex-ministro das relações exteriores, e o novo ministro da Economia e Comércio Naftali Bennet criticaram duramente Netanyahu na mídia.

E de fato, desde o telefonema, Erdogan está fazendo de tudo para fazer Israel se arrepender de ter se dobrado à vontade de Obama.
Mas depois do Obamafest, quem poderia dizer não ao presidente americano?

Imediatamente após o telefonema, Erdogan começou uma campanha pessoal de ataques a Israel, não se importando muito com a necessidade de restabelecer as relações com o estado judeu face à situação na Síria e com armas químicas arriscando cair nas mãos de extremistas inimigos tanto de Israel quanto da Turquia.

Washington sabe que a situação de Assad é precária e as consequências desta guerra civil podem ser muito piores para toda a região. Assim, neste momento, Obama precisa ter aliados estáveis e que se comuniquem uns com os outros.

A Turquia havia demandado 3 coisas de Israel: um pedido de desculpas, restituição para as familias dos mortos e a eliminação do bloqueio de Gaza.

O bloqueio não será levantado e o que resta é negociar o montante da restituição. Israel quer pagar $100,000 e a Turquia está exigindo 1 milhão de dólares para cada família.

Erdogan está claramente numa “viagem” de poder. Desde 2006 quando insultou o presidente de Israel no fórum econômico em Davos, ele tem esquentado sua retórica contra Jerusalém num esforço populista para aumentar seu apoio interno. Ele nunca escondeu seu sonho de restaurar o Império Otomano, tendo ele como sultão.

A situação na região mudou e hoje ele ataca a Síria e Bashar Assad para aumentar sua influência e poder na região. Sua estratégia deu resultados. É só comparar hoje a importância da Turquia com a da Grécia.

Com as primaveras em erupção nos países árabes, Erdogan compreendeu que muito mais do que cortejar líderes, é importante cortejar os povos e nações. Por isso ele decidiu fazer algo inusitado: reconciliar o governo turco com a minoria kurda do país inclusive com seu arqui-inimigo, o PKK, grupo que causou a morte de uns 45 mil turcos em diversos ataques terroristas pelo país. E deu certo. Nesta semana, Abdullah Ocalan, líder do PKK ordenou um cessar-fogo de sua cela em Ankara.

Mas esta não foi sua só motivação. Erdogan entente que 25 milhões de kurdos num país de 70 milhões de habitantes, constituem uma minoria expressiva. Além disso, os kurdos do Iraque que estão sentados sobre uma reserva imensa de petróleo já conseguiram sua autonomia assim como os kurdos da Síria. Erdogan teve então que se acomodar à esta nova realidade do melhor modo possível para lhe dar vantagens.

Em relação à Israel, no entanto, não podemos fechar os olhos à realidade: Erdogan é um anti-semita declarado e inimigo do estado judeu. Depois do final de seu termo como primeiro ministro em 2014, ele procurará passar uma emenda à constituição para assumir a presidência da Turquia com poderes maiores.

Hoje ele está usando o pedido de desculpas de Israel como um sucesso de sua administração. Ele disse ao parlamento que não cedeu em absolutamente nada. E planeja uma futura viagem a Gaza para ajudar a levantar o bloqueio naval de Israel. Se ele realmente for para a Faixa, vamos certamente ouvir novas e bombásticas declarações dele ao lado dos líderes do Hamas.

Agora Erdogan está capitalizando sua imagem nas costas de Israel. A prefeitura de Ankara colocou posters na cidade inteira em agradecimento à ele. Na foto aparece Erdogan e de lado, reduzido em tamanho está Netanyahu como que se acovardando perante o conquistador turco.

E aproveitando a onda de poder e se mostrar ainda mais machão, ele avisou que é cedo demais para a recolocação de embaixadores entre Israel e Turquia e não ordenará o cancelamento dos procedimentos legais do seu país contra os soldados israelenses que participaram na ação ao Mármara.

E o Irã está acompanhando de perto estes eventos. Os mullas não devem estar muito felizes com a popularidade de Erdogan com quem competem pela liderança do mundo islâmico. Mas há outro aspecto.

Numa região aonde percepções valem muito mais do que a realidade, Israel tem que saber vestir suas ações. Um simples pedido de desculpas pode ser visto como fraqueza e impotência. Nesta região infestada de tubarões, Israel não tem o luxo de se picar o dedo. O cheiro de sangue será sentido a milhares de quilometros fortalecendo e encorajando seus inimigos.

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