Sunday, July 28, 2013

Libertando Terroristas - 28/07/2013

Em 1988, enquanto viajava num ônibus para Tiberias, Rachel Weiss de 26 anos e seus 3 filhos pequenos Netanel de 3 anos, Rephael de 2 anos e Efraim de 9 meses foram mortos queimados por um cocktail molotov jogado por Jooma Adam, um palestino. O jovem soldado David Delarosa que tentou salvá-los também morreu queimado.

Em 1989, enquanto caminhava de sua casa até a Universidade Hebraica de Jerusalem onde era professor, Menachem Stern de 64 anos foi esfaqueado até a morte por Mahmoud Muammar e Ibrahim Salah. Stern foi ganhador do Premio Israel por excelência no ensino de História.

Em 1993, Ian Feinberg um advogado de 30 anos e com 3 filhos pequenos que estava ajudando organizações palestinas em Gaza foi arrancado de uma reunião em Rimal e morto a tiros seu corpo esfaqueado e desmembrado a machadadas por 3 palestinos.
Estes são apenas 3 exemplos. Há outros 101 a serem lembrados. Hoje, o gabinete israelense está votando pela soltura de 104 energumenos responsáveis pela morte de centenas de israelenses.

Pela enésima vez o cenário se repete e Israel parece não querer aprender com os erros passados inclusive a se entregar às absurdas pressões americanas. Nossa memória pode ser curta mas não tão curta a ponto de esquecermos o que significa para as familias de vítimas de terrorismo a libertação dos perpetradores destes crimes horrendos.

Netanyahu escreveu uma carta ao povo de Israel ontem tentando explicar o inexplicável: que primeiro-ministros são eleitos para tomarem decisões difíceis e por vezes, contra a vontade popular.

Este é precisamente o caso. Nenhum país no mundo aceitaria libertar 104 terrroristas como um gesto de “boa vontade” para trazer os palestinos de volta à mesa de negociações.

Nem mesmo os Estados Unidos que estão exigindo este passo.

Netanyahu, sabendo que 80% dos judeus seculares e 95% dos judeus religiosos são contra a libertação destes terroristas pediu como gesto de boa vontade de Obama a soltura de Jonathan Pollard. Na sua visão, se Pollard for solto, será mais fácil para os israelenses engulirem esta pílula. A resposta de Obama foi um curto e grosso não.

Pollard é o caso mais vil de alguém preso nos Estados Unidos jamais visto na História americana. Pollard foi condenado por espionagem por ter entregue a Israel, um país aliado, documentos que os Estados Unidos se haviam obrigado a entregar a Israel mas decidiu segurar. A maior pena dada a outros que espionaram para países aliados foi de 16 anos. A média é de 2 a 4 anos. Pollard pegou prisão perpétua e já está encarcerado há 29 anos sendo que os primeiros 7 anos em confinamento solitário.

Quando os hipócritas desta administração americana exigem de Israel “gestos de boa vontade” e “medidas para aumentar a confiança”contra os palestinos “aparecerem” nas negociações eles não querem ver que nada disso nunca trouxe qualquer resultado positivo.

E porque?

A cada vez, Ramallah descreve estes terroristas condenados como heróis politicos causando uma erosão na confiança dos israelenses em seu sentido de justiça. O governo por seu lado acha mais prudente pagar o preço do que ser rotulado de intransigente.

Na última vez que isso ocorreu foi no outono de 2007 quando o governo de Ehud Olmert se prontificou a pagar pela presença palestina em Annapolis. Como agora, as solturas tinham que ocorrer em fases. Em Agosto, 255 terroristas foram libertados seguidos por outros 87 em outubro. Na época, Netanyahu havia criticado duramente Olmert, acusando-o de capitulação.

E como em 2007, a razão para estes gestos unilaterais era a de melhorar a imagem de Abbas e da Fatah frente ao Hamas, como se isso por si só pudesse dar qualquer legitimidade ao presidente da Autoridade Palestina que teve seu mandato expirado em Janeiro de 2009.

É chocante que as mesmas suposições são feitas aqui, como se nenhuma lição tivesse sido aprendida. A primeira é que é bom para Israel ajudar a Fatah. Ficam esquecidos os incontáveis ataques terroristas, especialmente depois dos acordos de Oslo, enquanto os líderes assinavam acordos que os beneficiavam prodigiosamente especialmente do lado financeiro.

Há uma corrente no governo de Israel que prega que a Fatah é melhor que o Hamas e que pode ser que um líder honesto apareça como um parceiro para a paz. Não só isso não ocorreu em 20 anos desde Oslo, mas as medidas unilaterais da Autoridade Palestina na ONU completamente destrói esta suposição.

Ninguém se pergunta aonde está a raíz do problema. Ele começa com a percepção de Israel pelo outro lado. Se alguém pensa que para os palestinos estas são concessões benevolentes de uma sociedade fundamentada num sistema legal independente que permite até a seus mais implacáveis inimigos um julgamento justo, está completamente errado. Nada disso existe na Autoridade Palestina ou em qualquer outro estado árabe.

A Autoridade Palestina nunca reconheceu que estes presos foram condenados justamente por atrocidades cometidas por eles, como o seriam em qualquer país democrático com um mínimo de consciência e de justiça.

Se esta é a base para as futuras negociações, qual será o valor de um compromisso com os palestinos que não aceitam a proibição fundamental de alvejar civis? Abbas nunca agiu contra o terrorismo apesar de suas incontáveis promessas. Ainda mais quando seus próprios assistentes patrocinam, incitam e despacham estes terroristas.

A Autoridade Palestina oficialmente comemora estes assassinos como heróis em vez de condená-los como vilões. E a mídia palestina não economiza tinta para retratá-los como ativistas injusta e arbitrariamente presos por Israel.

Não há qualquer apreciação dos palestinos à estas solturas. Cada gesto de boa vontade de Israel é recebido com má-vontade e retórica viperina sobre a insuficiência da concessão. E esta ingratidão destrói o custo-beneficio do gesto.

Qualquer que seja o cálculo de Israel, em mostrar flexibilidade, tolerância, ou qualquer outro atributo inútil, a realidade vista pela Autoridade Palestina é bem diversa e longe de inspirar esperança. A esta altura, cada soltura terá apenas uma consequência: a de erodir ainda mais o poder de dissuasão de Israel.


Sunday, July 21, 2013

As Diretivas da União Européia e o Anti-Semitismo - 21/07/2013

Durante a semana passada discutimos a necessidade da Europa declarar a Hezbollah uma organização terrorista. A Europa não o fez pelo menos por enquanto, supostamente para não desestabilizar ainda mais a situação no Líbano.

Em vez disso, Catherine Ashton, a Representante da União Européia para Assuntos Exteriores e de Política de Segurança decidiu “esclarecer” a política da Europa em relação aos Territórios conquistados por Israel em 1967, particularmente sobre os assentamentos na Judeia, Samaria, Jerusalém do Leste e nos Altos do Golã.

Mais uma vez redescobrimos a Velha Europa! Esta mesma Europa que se intitula detentora do padrão supremo em moralidade mostrou esta semana que com todo o respeito aos 100 mil mortos na Síria, às dezenas de mortes no Egito e Líbano, Israel é o que realmente a incomoda. E então, decidiu partir para a ação banindo toda a cooperação com entidades israelenses baseadas além das linhas de armistício de 1967.

Além da ultrajante tentativa de boicotar judeus, estas diretivas tentam estabelecer um novo parâmetro político envolvendo as fronteiras de Israel. Para todos os efeitos, a União Européia traçou as fronteiras de Israel e pronto. Sem negociações! Para Bruxelas, John Kerry pode voltar para casa.

Há meses que Israel sabia que os Europeus estavam ocupados com um documento sobre os territórios conquistados em 1967. Mas ninguém havia antecipado um documento que dividiria Israel em dois: um que merece a cooperação e apoio da Europa e outro, leproso, sobre o qual a Europa se recusa a encostar o dedo.

As respostas de Netanyahu e outros membros do seu governo mostram a seriedade da situação. Na quarta-feira o primeiro ministro de Israel fez ligações urgentes para líderes europeus pedindo para adiarem a publicação destas diretivas. Sua única consequência será a total perda de fé dos israelenses na neutralidade da Europa e no processo de paz.

Não dá para entender os europeus. De um lado eles querem ter maior influência e envolvimento no Oriente Médio. Por outro, estão fazendo todos erros possíveis e imagináveis. A Alemanha fez declarações neste final de semana se distanciando desta decisão de Ashton e outros países colocaram a culpa nos burocratas da União Européia.

Esta não é a primeira vez que burocratas colocam os países membros em águas quentes. Quando a Alemanha e a França quiseram dar uma freada na inclusão da Turquia na União Européia, os burocratas decidiram o contrário. É o que acontece quando o mordomo dá as ordens, esquecendo quem é o dono da casa.

Estes burocratas sabem no entanto, que eles não são a Europa, e que não podem impor a Israel o contorno de suas fronteiras, especialmente forçar Israel a reconhecer como ocupados a Judeia, a Samaria, Gaza, Jerusalém do Leste e os Altos do Golã, os dois últimos anexados há anos por Israel.

Esta semana a Europa conseguiu se tornar ainda mais irrelevante nas negociações entre Israel e os palestinos. Ela ficará mais uma vez no escanteio olhando a América tomar a liderança nestas negociações. Mas apesar de ser incapaz de ditar a agenda, a União Européia ainda é capaz de destruir esforços diplomáticos como os de John Kerry. Foi muito irônico que foi precisamento o dia de Tishah BeAv a data escolhida pelos europeus para emitir estas diretivas que só encorajarão os palestinos a endurecerem suas posições em meio ao otimismo prematuro de Kerry.

Há alguns que acreditam que a Europa queria colocar Israel numa posição difícil e por isso Ashton escondeu de Israel a iminente publicação destas diretivas durante sua visita ao país há um mês atrás.

O que está acontecendo é uma revolução dos burocratas da União Européia que resolveram que eles irão ditar os fatos aos outros países.

É difícil medir o dano econômico que esta decisão causará, especialmente para organizações israelenses. Estas diretivas causarão dúvidas a arqueólogos europeus trabalhando junto à Universidade Hebraica de Jerusalém conduzindo escavações em Jerusalém do Leste, ou a cientistas europeus que ensinam na Universidade de Haifa, porque ela tem um prédio no Altos do Golã.

Israel não recebe caridade da União Européia. De fato, Israel paga para participar de projetos em conjunto. Inclusive importantes projetos em tecnologia e ciência que beneficiam sobretudo europeus.

Então aonde está o “terremoto” ou o “terrorismo econômico” presentes nos artigos de jornais mundo afora esta semana? A diferença pode não ser econômica mas seu impacto poderá ser outro e muito pior.

Estas diretivas foram a manifestação de uma linha européia de rotular os assentamentos como um obstáculo para a paz – o que não é novidade. Foi realmente a expressão de um desejo que Bruxelas tem de reduzir o tamanho de Israel.

Assim, antes que Israel exija da União Européia explicações e diretivas de por que a Córsega ainda é ocupada pela França, ou a Escócia pela Inglaterra, ou o País Basco e duas províncias do Marrocos ainda ocupados pela Espanha, os Europeus, como velhos colonialistas parecem se ter unido para combater este “novo colosso colonialista” que tem o tamanho do estado de Sergipe.


Os Europeus obviamente negam que isto tenha algo a ver com anti-semitismo. Eles dizem que só não gostam de assentamentos. Mas o pensamento de que se possa coagir judeus a dançar ao seu tom ameaçando seu bolso, é uma velha falácia. Mas é o legado que Catherine Ashton representa tão bem: os europeus, ela diz, irão fazer a seleção dos judeus de cada lado da linha verde. E submeter judeus a seleções não é algo estranho aos europeus.

Sunday, July 14, 2013

Declarando o Irã e a Hezbollah Terroristas - 14/07/2013

No próximo dia 19 de julho fará um ano do ataque a turistas israelenses na Bulgária que deixou 6 mortos e dúzias de feridos. E mais uma vez as autoridades búlgaras confirmaram o envolvimento da Hezbollah neste ato terrorista.

Em maio deste ano, a polícia nigeriana prendeu 3 libaneses com um arsenal suficiente para um pequeno exército: fuzis anti-tanques, quatro minas, 21 lançadores de granadas, 17 metralhadoras Ak-47s com mais de 11 mil balas, dinamite e outras guloseimas. Os três confessaram serem agentes da Hezbollah.

Também em maio deste ano, as cortes do Kenya condenaram dois agentes iranianos à prisão perpétua por atividades terroristas. Depois de presos os dois entregaram à polícia uns 20 quilos do poderoso explosivo RDX, e confessaram terem trazido ao país mais 100 quilos. Tanto na Nigéria como no Kenya, os alvos seriam interesses israelenses e ocidentais.

Estes dois casos provam não só a expansão do Irã e da Hezbollah na África do Leste e Oeste mas o fato do continente africano estar na linha de frente do terrorismo internacional que busca alvos americanos, europeus, israelenses e também africanos.

O Departamento de Estado americano, em seu Relatório Anual sobre Terrorismo por País concluiu que há um “ressurgimento claro do patrocínio estatal do Irã e do seu aliado Hezbollah em ataques terroristas”, algo não visto desde os anos 90.

Isto sem falar no envolvimento do Irã e Hezbollah na guerra civil na Síria e em crimes contra o povo sírio.

E com tudo isso, a Europa ainda está dividida sobre declarar a Hezbollah ou parte dela, uma organização terrorista. Mas os fatos acima e outros deveriam deixar claro que não só a Hezbollah deve ser designada uma organização terrorista mas a comunidade internacional deve também se posicionar contra o Irã.  

Não foi coincidência que o ataque na Bulgária ocorreu exatamente no 18º aniversário do ataque ao centro cultural judaico AMIA em Buenos Aires em 1994 que matou 87 pessoas e feriu mais de 300. O promotor especial argentino Alberto Nisman, nomeado para investigar o caso, concluiu em seu relatório de mais de 500 páginas que a penetração do Irã e da Hezbollah na America Latina está sendo usada para executar ataques terroristas quando o Irã decidir, direta ou indiretamente através da organização terrorista Hezbollah”.

Nisman descreve o envolvimento de diplomatas e da embaixada do Irã em Buenos Aires, de associações culturais e de caridade e até de mesquitas, no planejamento, consumação e cobertura das operações terroristas.

Primeiro, Nisman concluiu que o ataque à AMIA foi ordenado pelo mais alto escalão do governo do Irã, não uma facção radical. Isso foi um ato de terror em massa orquestrado pelo governo islâmico.Assim, o governo argentino emitiu mandatos de prisão contra o ex-presidente Rafsanjani, o ministro da inteligência e segurança Ali Fallahian, o ministro do exterior Ali Velayati e o ex-comandante da Guarda Revolucionaria Mohsen Rezai. Os dois últimos concorreram nestas últimas eleições para a presidência do Irã.

O relatório de Nisman também descobriu que o motorista suicida do carro usado no ataque era um agente da Hezbollah.

Nisman se refere à vasta estrutura operacional e de inteligência que “infiltrou” Buenos Aires e dos seus tentáculos que se estendem a países vizinhos incluindo o Uruguay e Chile.

Nisman disse que o motivo principal do ataque foi a decisão da Argentina em cancelar os contratos de fornecimento de tecnologia nuclear e armas à Republica Islâmica do Irã.

Este ataque à AMIA foi sem dúvida um presságio do que estaria para vir em 2011, 2012 e até 2013 em 5 continentes incluindo Chipre, Georgia, Azerbaijão, Singapura, Turquia e Estados Unidos além do Kenya e Nigéria.

Dadas as evidências irrefutáveis do envolvimento do Irã no terrorismo internacional e da cumplicidade da Hezbollah, uma questão se coloca: o que pode a comunidade internacional fazer para punir estes perpetradores e desencorajar outros atos terroristas?

Primeiro deve haver um trabalho conjunto em todos os níveis: diplomático, econômico e político para isolar o Irã como um pária entre as nações.  Estados devem trazer reclamações contra o Irã na Corte Internacional de Justiça por ataques a diplomatas e civis. Além disso, a Guarda Revolucionaria do Irã deve também ser designada como organização terrorista pelo mundo e a Hezbollah pela Comunidade Européia.

O ataque à AMIA foi inequivocamente e mais que tudo, um ataque contra o povo judeu. E o povo judeu e Israel são os alvos preferidos do Irã. Sabendo disso, a comunidade internacional não pode mais excluir Israel dos fóruns globais anti-terrorismo. É chocante ver que os Estados Unidos criaram um Fórum Global de Contraterrorismo em 2011 e na reunião de 2012, Israel foi excluída. É chocante não só dada a quantidade e magnitude dos horrores causados por terroristas a Israel mas é chocante excluir um país líder em tecnologia e know-how em contraterrorismo. Qualquer esforço global sério e crível deve incluir Israel se quiser ser bem sucedido.


A recente onda de ataques terroristas deve servir de alarme para a comunidade internacional. Ela tem que acordar e agir para combater e punir esta cultura de incitamento, terror e impunidade. Uma resposta internacional coordenada é necessária para combater estas ameças à segurança e à paz internacional. Se não agirmos agora contra o Irã e a Hezbollah, muito mais vidas serão perdidas e o sangue destas vítimas estará em nossas mãos. 

Sunday, July 7, 2013

A Queda de Morsi - 07/07/2013

Que diferença uma semana faz. A velocidade pela qual Mohamed Morsi foi deposto somente um ano após sua dramática eleição prova o quanto a situação no Egito é imprevisível. Para Israel esta situação apresenta tanto perigos como oportunidades, e isto depende do que Obama irá fazer.

O fato do exército estar de novo no comando pode ser algo positivo para Israel. É a instituição que monopoliza a força e é o fator estabilizante do país. Foram os militares, por exemplo, que negociaram o cessar-fogo entre o Hamas e Israel em novembro do ano passado. São os que mais têm interesse em manter os acordos de paz de Camp David pois só através dele o exército recebe a ajuda americana. Além disso, os militares são os únicos capazes de manter o controle na Península do Sinai.

Do lado positivo deste “golpe”, a humilhação da Irmandade Muçulmana no Egito, escancarando sua falta de programa e habilidade de governar, irá colocar um pano frio em seu poder de expansão não só no Egito, mas também na Tunísia, na Jordânia e potencialmente até na Síria – pelo menos por hora. Além disso, pode ter um efeito moderador no Hamas.

Do lado negativo, um confronto entre a Irmandade Muçulmana e o exército é possível. Muitos comentaristas estão vendo uma grande similaridade entre o que está acontecendo no Egito e o que aconteceu na Argélia em 1991. Em dezembro daquele ano, o Partido da Salvação Islâmica, afiliado à Irmandade Muçulmana, estava à frente na primeira rodada das eleições naquele país. Com medo de perder o governo do país, o partido então no poder, a Frente Nacional de Libertação, cancelou as eleições. Os militares tomaram o controle. Daí para a frente foram 10 anos de guerra civil entre os islâmicos e as forças leais ao exército que deixaram uns 200 mil mortos.

No Egito também há uma grande preocupação de que a Irmandade Muçulmana e os Salafistas recusem aceitar a saída de Morsi. Do seu ponto de vista, a expulsão do presidente é ilegal pois ele ganhara as eleições de modo justo e democrático. Tecnicamente falando, este argumento é correto e a Irmandade no Egito pode até pedir ajuda ao Hamas na Faixa de Gaza para tentar se reimpor à força.

Hoje no Sinai houve um ataque ao gasoduto que fornece gás natural à Jordânia. Houveram mais de 10 ataques desde 2011 à este gasoduto. Na sexta-feira cinco policiais foram mortos em pontos de checagem e outros quatro pontos sofreram ataques no sábado. Um padre foi morto em um deles por um grupo de militantes muçulmanos.

A expulsão de um líder democraticamente eleito depois de um ano, não é um bom começo para qualquer país. Mas a intervenção rápida do exército ao lado de manifestantes que congregavam toda a sorte de pessoas que só tinham em comum serem contra Morsi, mostrou que alguém está controlando a situação e prevenindo muitas mortes.

Muito do que está na balança no Egito dependerá de como a administração Obama irá interpretar os eventos. A lei americana exige que a Casa Branca suspenda toda e qualquer ajuda a países que sofram golpes militares que deponham governos democraticamente eleitos. Obama já havia pedido mais de 1.5 bilhões de dólares em ajuda econômica e militar ao Egito a ser incluído no orçamento do próximo ano fiscal que começa em outubro.

Será uma decisão muito infeliz se Washington decidir continuar do lado de Morsi e do seu direito de governar. E com a história de apoio à Irmandade Muçulmana por esta administração americana, tudo é possível.

Mas há o fato de que este não foi um golpe militar estritamente falando. O exército não tomou as rédeas do governo civil no Egito. Os militares apoiaram um movimento popular contra Morsi. Depois de depô-lo, o exército entregou a condução do governo interino, até as novas eleições, à Suprema Corte Constitucional.

Não há dúvida que o apoio de Obama à Irmandade Muçulmana comprometeu seriamente o relacionamento da América com o Egito. Mas os Estados Unidos ainda podem ter um impacto crítico.

Em primeiro lugar, a América pode alocar mais ajuda econômica para ajudar os pobres no Egito e talvez reduzir a ajuda militar. Pode também oferecer ajuda logística para pegar os terroristas no Sinai, como o faz para pegar os traficantes na Colômbia e investir em sistemas sofisticados para impedir a travessia de terroristas de Gaza para dentro do Egito. Esta ajuda deverá ser condicionada à passos concretos à serem tomados para constituir um governo mais democrata e pluralista, que inclua os coptas e outras minorias étnicas e religiosas do país como os shiitas e baha’is.

O que o Egito precisa hoje é tentar salvar sua economia. Com o comércio degringolando, as monstruosas filas para a gasolina, o turismo à 10% da sua capacidade, a inadimplência subindo, a insatisfação é geral. Qualquer outro governo que não trabalhar imediatamente para começar a corrigir esta situação irá cair no ano que vem, democraticamente eleito ou não.

Um analista egípcio capturou bem a situação: ele disse que a revolução não aconteceu em 2011 e terminou com a eleição de Morsi. Ela apenas começou em 2011 e continua até hoje. E irá continuar até que um governo mais preocupado com o bem-estar do povo suba ao poder e mostre sua capacidade de governar.

Se isto for verdade, podemos esperar muita instabilidade à frente. A corrupção, o desacordo, o radicalismo religioso e ódio entre os diversos grupos têm um poder muito maior de se espalhar do que as lentas e por vezes dolorosas medidas para recuperar a economia. Teremos que esperar para ver.

A agitação no Egito tornou a situação imprevisível com um grande potencial à instabilidade e até à guerra civil e ao completo desastre.

A caída de Morsi, no entanto, também apresenta novas oportunidades e pode levar a um resultado positivo no país mais populoso do Oriente Médio e para toda a região.

Este resultado depende, pelo menos em parte, no que os Estados Unidos farão.