Monday, September 16, 2013

A Jogada de Mestre de Putin - 15/09/2013

Um líder não nasce. Ele aprende com experiência, com a idade. Abraham Lincoln foi um líder, Ronald Reagan foi outro. O que vimos nas últimas semanas vindas do presidente Obama, não foram ações de um líder. E hoje, neste jogo de xadrez que é a política internacional, Vladimir Putin deu um golpe de mestre e tomou a liderança, não só na política no Oriente Médio, mas do mundo.

A ONU, a Alemanha, a França e o resto da União Européia estão todos congratulando Putin. O organizador comunitário nunca foi páreo para o ex-KGB.

Duas semanas atrás Obama foi ao ar para anunciar um ataque contra a Síria mas que ele iria esperar pelo Congresso. Quando ele viu que o Congresso iria votar contra, pediu para adiar a votação. E hoje, como num passe de mágica, temos um acordo no qual a Síria prometeu revelar e entregar seu estoque de armas químicas, as mesmas que ela tem negado possuir, em troca da retirada da ameaça americana. E quem irá verificar que tudo será seguido à risca? Não outro que Putin.

Aproveitando a onda, Putin escreveu um artigo que foi publicado nesta semana no The New York Times, no qual ele repete as mesmas perguntas feitas por todos aqui: qual é o interesse dos Estados Unidos em se intrometer na guerra civil síria e se as vidas americanas perdidas no Afeganistão e Iraque não foram suficientes para que a América pensasse duas vezes antes de se meter numa terceira guerra. Putin terminou seu artigo com um verdadeiro tapa na cara, dizendo que os americanos têm que parar de pensar que são um povo excepcional.

Para muitos de nós, isso foi o cúmulo. Para a América ser repreendida no palco mundial é inédito, especialmente com Obama como presidente. O que nem havia governado um dia e já recebera o prêmio Nobel da Paz, o que fora até os árabes para se curvar e pedir desculpas pelos anos de política errônea do seu país, o que foi elevado a D-us pela mídia e não pode fazer nada de errado? Mas levar sermão de Vladimir Putin, essa foi demais.

Vamos recapitular quem é Putin. Durante 16 anos ele foi um oficial sênior da KGB. Em 1996 ele se tornou vice de Boris Yeltsin que inexplicavelmente resignou, e Putin tornou-se presidente da Rússia em 1999. No mesmo ano, a Russia invadiu a Chechenia para impedir que a mesma se separasse da Federação Russa. Em maio de 2000 a Russia ocupou e submeteu a Chechenia à força até que em 2009, Akhmed Zakayev, lider do movimento separatista decidiu suspender a resistência armada. O resultado deste conflito foi 50 mil civis além de uns 11 mil soldados russos mortos.

Mas Putin não parou por aí. Em 2008, já com a Chechenia sob controle, ele invadiu a Georgia um país independente, para impedir que parte das republicas russas da Abkasia e da Ossétia do Sul, povoadas por etnias georgianas, se juntassem à ela. Mais de 2 mil civis e um número não preciso de militares morreram em 5 dias de confronto.

Fora o fato da Russia de Putin, ter sido uma aliada incondicional do Irã, tendo anunciado na semana passada sua intenção de vender aos Ayatollahs o famoso sistema S-300 anti-mísseis para impedir qualquer ataque às suas instalações nucleares, além da construção de ainda outro reator nuclear.

Isso além da Russia ter sido o maior fornecedor de armas para a Síria ganhando em troca o direito de um porto para conter sua base naval no Mediterrâneo.  Em nenhum momento a Russia vacilou em defender Bashar Al-Assad, mesmo quando confrontada com as evidências de uso de armas químicas.

O mesmo não se pode dizer de Obama. Com sua política exterior completamente incoerente especialmente no Oriente Médio, ele conseguiu em poucos anos na Casa Branca literalmente destruir a confiança e a credibilidade da América na região. Seus aliados hoje na Arabia Saudita, Bahrain, Kuwait, Emirados e especialmente Israel estão reconsiderando suas estratégias pois duvidam poder contar com os Estados Unidos para os defenderem.

Então vamos recapitular: Obama delineou uma linha vermelha em 2012 que hoje ele diz não ser dele mas do mundo. Assim sendo, sua credibilidade não estava em jogo mas sim a da comunidade internacional. Neste gancho, o porta-voz da Casa Branca disse na quarta-feira que o prestígio da Russia estava em jogo em relação ao acordo com a Síria.

Estas declarações curiosas refletem mais que tudo a confusão que emana de Washington e sua reação à este surpreendente acordo pelo qual a Síria teria concordado ceder suas armas químicas voluntariamente.

Será que o prestígio do Kremlin está mesmo em jogo? Os russos devem ter dado muita risada. O prestígio da Rússia no Oriente Médio deriva do fato de Moscow ser um aliado fiel, defendendo seu aliado Bashar Al-Assad até o fim. Por um momento, na semana passada, pode ser que Assad tenha tido um minuto de preocupação . Ele pode ter temido que um ataque americano pudesse se ampliar, enfraquecendo suas forças e abrindo o caminho para os rebeldes. Isto hoje acabou.

Putin viu a relutância de Obama e a declaração de Kerry que o ataque seria inacreditavelmente pequeno para fazer uma proposta suficientemente crível, e que não tornasse sua aceitação absolutamente ridícula. Obama feliz, aceitou o ramo de oliveira e rapidamente se distanciou de qualquer ação militar.

A credibilidade da Russia não está em jogo. Ela está assegurada, pois ela garantiu a segurança do seu aliado e seu esforço nesta guerra. E falando nela, nas últimas semanas houve um aumento substancial de fornecimento de armas e peças de reposição da Russia para Assad, saindo do porto de Oktabyrsk para sua base naval em Tartus na Síria.

Revigorado, nesta quarta-feira passada, Assad bombardeou um hospital perto de Aleppo matando 11 pessoas, inclusive um médico.

E sobre a Síria ceder suas armas químicas? Pelas estimativas, Assad tem mais de mil toneladas. Especialistas estimam que depois que incineradores especiais forem construídos e as armas reunidas num só local, levará entre 10 e 12 anos para destruir um arsenal deste tamanho. No meio tempo, teremos que confiar em Putin, o fornecedor de armas, para garantir que este processo aconteça. Além disso, inspetores da ONU não poderão fazer nenhuma verificação enquanto a guerra civil não terminar. Nada como uma guerra civil para impedir o movimento de inspetores.

Se a Russia mostrar que uma certa quantidade destas armas foram mesmo destruídas, isso fará de Putin um herói e se não, quem poderá culpá-lo com esta guerra civil? Obama por seu lado, já conseguiu sair do caminho militar, apesar da linha vermelha da comunidade internacional que ele diz ter obrigação de defender, ter sido ultrapassada.


Não só o prestígio da Russia não está em jogo mas hoje o prestígio dos Estados Unidos está nas mãos dos russos. O Congresso americano entendeu isso e ontem o Senador Lindsey Graham decidiu tomar a liderança e fazer passar pelo Congresso uma resolução dando ao presidente a autoridade de agir militarmente se o Irã atingir a capacidade nuclear. Isto sem o pedido do presidente. Lindsey disse que isso mandará uma mensagem ao Irã que ambos, o Senado e a Câmara estão do mesmo lado se o Irã atacar ou ameaçar atacar Israel ou outro aliado americano na região. Isso é o que faz um líder. 

Para alguns de nós 2016 não pode chegar mais rápido. Obama não é Lincoln ou Reagan. Infelizmente hoje, o mercador da Casa Branca não chega aos pés do mercador de Damasco.


No comments:

Post a Comment