Tuesday, September 3, 2013

O Vacilo de Obama - 01/09/2013

Bashar Assad e seu governo estão comemorando hoje. De fato, estão comemorando desde ontem à noite. 20 Minutos depois do discurso do Presidente Obama, o Ministro das Relações Exteriores da Síria Wallid Al-Muallem declarou que os Estados Unidos levantaram a bandeira branca antes da guerra começar.

Durante a noite as estações de televisão sírias mostraram programas sobre a capacidade do seu exército, as armas disponíveis além de comentaristas que afirmaram que o povo sírio não estava com medo. E se os Estados Unidos queriam ver um povo com medo, que fossem para Israel, aonde se estava distribuindo máscaras contra gás.

Aqui nos Estados Unidos o discurso de Obama causou surpresa. Na sexta-feira o Secretário de Estado John Kerry havia feito uma declaração, descrevendo com surpreendentes detalhes como o exército sírio entrou no subúrbio de Ghouta da capital Damasco horas antes do dia 21 de agosto para preparar o ataque, como ordens para eles usarem máscaras contra gás foram interceptadas, o lançamento do ataque e em seguida as reportagens através da mídia social das convulsões e mortes de 1.429 civis, entre eles 426 crianças.

A aposta até sábado de manhã era que Obama iria anunciar um imediato ataque à Síria para punir Assad pelo uso das armas químicas. Se não fosse no próprio sábado, os rumores diziam que o ataque ocorreria hoje, domingo.

Mas surpreendentemente, apesar de Obama declarar que sua decisão era de agir, ele decidiu não fazê-lo sem a aprovação do Congresso americano.

Obama com certeza não quer se envolver na Síria e está buscando qualquer jeito para sair do “embroglio” que ele se meteu em outubro do ano passado quando demarcou uma linha vermelha para os sírios que seria ultrapassada com o uso ou mesmo o movimento de armas químicas por Bashar al-Assad.

Isto quer dizer que para Obama e a comunidade internacional, a morte de mais de 100 mil civis metralhados e bombardeados é admissível, mas matá-los com armas químicas não o é.

A Síria é um dos cinco países que não assinaram a Convenção Contra Armas Químicas que proíbe o desenvolvimento, produção, armazenamento, transferência e uso de armas químicas. A Síria produz várias toneladas de gás Sarin, Tabun, VX e Mostarda por ano. Só para ter uma ideia, uma só gota de gás Sarin, o gás alegadamente usado neste ataque, pode matar várias pessoas em alguns minutos.

A decisão de Obama de procurar a aprovação do Congresso provavelmente se deu por causa da rejeição do parlamento inglês em envolver a Grã-Bretanha em mais esta guerra. Esta foi uma grande derrota para David Cameron, e para Obama. Se o Congresso americano votar contra um ataque à Síria, será a primeira vez que um presidente americano será derrotado num pedido de intervenção militar.

O Congresso está de férias até o dia 9 de setembro, então até esta data, no mínimo, a Síria sabe que não haverá votação autorizando o ataque. Até lá, Assad terá tempo suficiente para remover armamentos e soldados, e até substitui-los com civis, que morrerão num ataque americano. Se isso acontecer, será um verdadeiro desastre para Obama, ganhador do prêmio nobel da paz…

E se o objetivo de Obama não é mudar o regime, como ele mesmo disse, para onde nos levará este ataque? Já vimos este filme antes. Clinton bombardeou uma fábrica no Sudão, Reagan bombardeou uma na Líbia. Mas estes ataques só fortaleceram os regimes locais e provocaram a morte de outros americanos em retaliação.

Se por um lado uma resposta negativa do Congresso poderá “salvar” Obama de um ataque que ele não quer, por outro, sua credibilidade e capacidade de governar os Estados Unidos com um Congresso republicano nos próximos 3 anos, poderá ficar seriamente comprometida.

A verdade é que não há soluções simples para os horrores que estão acontecendo na Síria. Se o ocidente tivesse agido mais cedo, talvez tivessemos tido a opção de ter alguém moderado da oposição liderando a Síria. Hoje esta possibilidade é inconcebível. A escolha é entre Assad e Al-Qaeda.

A profundidade do barbarismo que ambas as partes estão prontas a cometer, excedem qualquer filme de terror. O regime terrorista do Irã e a Hezbollah suportam Assad. A Russia também. E esta é a mais vergonhosa iniciativa do Kremlin desde a queda da União Soviética.

A pergunta é então: porque o ocidente deveria se intrometer? Porque não deixa-los se matar por quaisquer meios disponíveis?

Porque é inaceitável ao mundo civilizado revogar a moralidade e ficar de lado enquanto civis inocentes são massacrados deste modo. Isto não é Darfur no Sudão aonde os mortos não tinham Facebook ou Twitter. Na Síria, as imagens chegam ao mundo instantaneamente. Se nos mantivermos como simples espectadores deste assassinato em massa, estaremos dando a luz verde para outros regimes cruéis a agirem igual ou pior. Perderemos nossa humanidade. Nada deterá a Coréia do Norte ou o Irã em usar armas nucleares para atingir a almejada hegemonia ou destruir Israel. As imagens do mundo imóvel enquanto os judeus eram exterminados no Holocausto voltarão.

Intervenção não vem sem perigos. Pressão externa, especialmente com regimes árabes, provaram ser ineficazes. No Iraque, Afeganistão, Líbia e até no Egito, tentativas de impor a democracia só resultou na ascensão dos radicais islâmicos com fichas em direitos humanos piores que seus predecessores.

Mas o ocidente, liderado pelos Estados Unidos precisa agir decisivamente. Obama precisa cumprir a palavra ou a segurança de todo o mundo livre estará em perigo.

De modo geral, a resposta americana tem sido vergonhosa. Ela praticamente assegurou a Assad que a resposta será restrita em local e tempo estressando que não está em busca de mudança de regime.

Qualquer ataque nestas condições não irá deter ninguém disposto a matar seus próprios cidadãos para se manter no poder. Assad irá declarar vitória sobre os Estados Unidos e os aliados na região se sentirão abandonados vendo Obama incapacitado de cumprir com seus comprometimentos regionais. Certamente não acalmará as ansiedades de Israel face à ameaça nuclear do Irã.

O comentarista israelense Dan Margalit hoje disse que para os israelenses, a resposta estremecida de Obama ao uso de armas químicas por Assad, trouxe lembranças do discurso do Primeiro-ministro de Israel Levy Eshkol antes da Guerra dos Seis Dias. Durante o discurso, Eskhol gaguejou e mostrou dúvidas e insegurança. Isto o forçou a entregar a pasta da defesa a Moshe Dayan e trazer Menahem Begin e Yosef Sapir para o governo. Mas na America, Obama terá que arcar com tudo sozinho.

Hoje não sei se Obama poderá consertar o que ele estragou com sua indecisão, hesitação e amadorismo mas qualquer ação daqui a dez ou quinze dias, não terá o mesmo resultado que se tivesse sido tomada na hora certa.


Esta é a lição que precisamos aprender com o Irã. 

1 comment:

  1. Shalom!
    Feliz Rosh Hashaná!: http://israelemportugues.blogspot.com/2013/09/feliz-5774.html

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