Sunday, February 28, 2016

Trump, Cameron e a Volta do Populismo - 28/2/2016

O improvável aconteceu e hoje Donald Trump parece ser o inevitável candidato republicano nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Há apenas alguns meses, os “especialistas” em política zombavam e descartavam sua candidatura. Hoje Trump calou a boca não só dos especialistas, mas serviu um grande sapo para os políticos de carreira em Washington.

Trump está ganhando em todas. Com mulheres, jovens, idosos, veteranos do exército, brancos, hispanos e negros, seculares e evangélicos. Se na super terça-feira ele ganhar na maioria dos estados, o partido republicano não terá escolha a não ser nomeá-lo para enfrentar Hillary Clinton em novembro.

Qual é a causa deste sucesso? Trump é um construtor bilionário e apresentador de um dos mais bem sucedidos reality shows da televisão. Mas sua popularidade não tem nada a ver com isso. Trump conseguiu canalizar as profundas frustrações que o público americano sente com as elites políticas e culturais do país.

Em outras palavras, ele fala exatamente o que as pessoas pensam mas não dizem sob pena de serem consideradas intolerantes, politicamente incorretas ou atrasadas. Este é o terror social e intelectual imposto pelo exército de burocratas e acadêmicos inseridos por Obama nas posições mais críticas do governo americano.

Cada vez que nos encolhemos ao ouvir Trump falar algo politicamente incorreto, sua popularidade aumenta. Sua candidatura disparou quando ele prometeu construir um muro ao longo da fronteira sul e fazer o México pagar por ele e assim combater a imigração ilegal que está roubando empregos de americanos.

Novamente, sua aprovação foi para a estratosfera quando, depois do ataque em San Bernardino, Trump disse que proibiria a imigração de muçulmanos para a América até desenvolver um método para checar estes imigrantes.

Milhões de americanos estão fartos de serem chamados de racistas, chauvinistas, homofóbicos, extremistas, privilegiados, cada vez que abrem a boca. Em Trump eles encontraram sua voz. E ainda há o sentimento que Obama transformou a América - como ele prometeu que faria- mas foi da maior potência o ao maior otário do mundo. Quando Trump descreve o péssimo acordo assinado com o Irã ou a reaproximação com Cuba sem que os mulás ou os irmãos Castro se obrigassem a absolutamente nada, ele fala direto ao coração destes eleitores. Seus fãs não querem saber os detalhes de seu plano para a saúde, defesa, ou a economia. Eles odeiam os políticos de Washington e querem alguém que não tem o rabo amarrado com ninguém, que está pagando por sua própria campanha, alguém que comprovadamente foi bem sucedido em negócios que irá fazer algo diferente e criar um futuro melhor para os americanos.

Se eleito, Trump será um presidente muito popular, e porque ele não tem nenhuma agenda ideológica, ele será o oposto do hiper-ideológico Obama.

Os americanos não estão sozinhos no mundo com esta frustração e incerteza. Os países do Oeste Europeu também estão enfrentando uma onda de insatisfação. Partidos populistas que querem estancar a imigração muçulmana e até sair da União Europeia estão ganhando cada vez mais eleitores, levando os partidos políticos tradicionais ao pânico.

Estes populistas prometem a mesma coisa que Trump: restaurar a antiga glória de seus países e acabar com a monstruosidade burocrática da União Europeia que pulverizou o caráter nacional dos seus países e lhes roubou a soberania. Hoje muitos europeus rejeitam a política de fronteiras abertas e querem a volta de sua identidade nacional. O próximo 23 de junho será o teste. Neste dia, os ingleses decidirão se continuam ou não da União Europeia. O popular prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson é quem lidera esta campanha contra a vontade do Primeiro Ministro David Cameron. Johnson também pôs o dedo na insatisfação do povo com as elites políticas. E se a Inglaterra sair, poderemos ver outros países seguirem.

E numa tentativa de conectar com o povo, Cameron deu um grande passo em falso esta semana. Ao responder ao parlamentar inglês Imran Hussain que disse ter visitado a “Palestina” na semana passada, Cameron disse que estava “genuinamente chocado” com o atrevimento de Israel de construir no leste de Jerusalem. Ele disse que apoiava Israel mas não apoiava a colonização ilegal. Que “ele não apoiava o que estava acontecendo em Jerusalém do Leste e... “que é muito importante que esta capital se mantenha do jeito que era no passado”.

Será que o primeiro ministro inglês realmente quer que Jerusalém seja “mantida como era no passado?” Como era então sob o governo Jordaniano, aonde as sinagogas e lugares sagrados judaicos foram destruídos e queimados? Quando judeus não tinham acesso ao Muro das Lamentações e seus direitos religiosos básicos foram negados?
Ou talvez quando os ingleses tinham o Mandato da Palestina, e judeus proibidos de tocar o shofar na cidade velha para não “incomodar os muçulmanos” e quando judeus eram proibidos de adquirir propriedade em Jerusalem? Na época não havia rede de água, esgotos, eletricidade, ruas, escolas, coleta de lixo e tratamento médico disponível para todos. Que tal Israel suspender todos estes serviços no leste de Jerusalém? É isso que quer Cameron?

Também não dá para entender o que ele quis dizer com “o que está ocorrendo em Jerusalem”. Aparentemente ele não está se referindo aos esfaqueamentos, atropelamentos e tiroteios promovidos pelos palestinos. Também não creio que ele esteja se referindo ao progresso econômico, ao parque industrial e tecnológico que emprega milhares de árabes, ou a liberdade e cultura que permeia a cidade desde que voltou ao controle judaico.

Aparentemente, o que escandaliza Cameron é o fato de judeus estarem construindo na cidade. Numa época em que o Oriente Médio inteiro está sendo destruído por guerra, inclusive os maiores tesouros históricos e arqueológicos da Humanidade, Cameron se ofende com construção, porque ela é feita por judeus. Por esta lógica esquizofrênica, este é o único obstáculo para a paz.

A verdade é que mesmo assim, até agora, Cameron tem sido o maior amigo de Israel. Ele emendou a lei que dava a qualquer um o direito de pedir a prisão de supostos “criminosos de guerra” que alvejaram Tzipi Livni, Shaul Mofaz e Ehud Barak. Ele também apoiou as mais duras sanções contra o Irã, excluindo Teherã do maior sistema de transferência de fundos, o SWIFT. Ultimamente, Cameron tomou medidas contra os ativistas do Boicote, Desinvestimento e Sanções proibindo discriminação contra produtores Israelenses. É exatamente por isso que foi tão difícil ouvi-lo condenar Israel por algo tão normal quanto permitir a todos seus cidadãos de construírem e viverem aonde bem entenderem em sua capital!

Parece que com o novo antissemitismo permeando a Europa, fica difícil manter uma política aberta de apoio a Israel, mas esperamos que Cameron reganhe logo a lucidez.

A corrida dos americanos e europeus em direção aos populistas é resultado de sua crescente crise de identidade, de fraqueza social, cultural, militar e econômica. Isto sem dúvida irá causar instabilidade no mundo num futuro próximo. Israel precisa reconhecer o que está acontecendo e não se deixar pressionar por alguns que procuram marcar pontos políticos. Não é hora de negociar e de fazer concessões a terroristas em ternos. Israel tem que continuar a se defender e manter-se firme até termos um novo presidente na Casa Branca.

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