Sunday, December 18, 2016

O Fim de Aleppo - 18/12/2016

A batalha por Aleppo acabou. O regime do ditador xiita Bashar al-Assad e seus aliados, a Rússia, o Irã e as milícias paramilitares da Hezbollah venceram.


Aleppo era a cidade mais importante da Síria, o centro comercial do país. Damasco, a capital, era a segunda. A importância da cidade remontava a seis mil anos antes da era cristã tendo sido um dos polos da Rota da Seda até 1869 com a inauguração do Canal de Suez.
Aleppo antes da Guerra

Visitei Aleppo em 1998, sua cidade velha, o mercado fechado mais antigo do mundo com as especiarias moídas na hora, os deliciosos sorvetes e doces, sua arquitetura medieval e artesanato, a enorme cidadela que pelo que dizem foi visitada pelo patriarca Abraão, e a grande mesquita construída sobre o gigante templo romano de Júpiter.

Mercado de Aleppo antes e depois da Guerra

 Só não pude visitar a Sinagoga Central aonde meus ancestrais rezaram, porque era proibido. A mesma sinagoga que abrigou por 600 anos, o Codex, a mais antiga Bíblia completa conhecida. Até 1947.

Sinagoga Central de Aleppo

Logo após a ONU ter votado pela partilha e a criação de um estado judeu, a população de Aleppo perpetrou um pogrom contra a população judaica da cidade. 75 judeus foram mortos, centenas foram feridos. Dez sinagogas, cinco escolas, um orfanato e um clube de jovens junto com várias lojas e 150 casas de judeus foram queimadas e destruídas. Durante o tumulto o Codex foi perdido mas parte dele reapareceu em Israel em 1958. No dia seguinte ao pogrom, metade dos judeus fugiu da cidade e nos anos seguintes o resto da comunidade judaica deixou a Síria para sempre.

Sem fazer comparações quanto à magnitude da destruição, as imagens que nos chegam hoje de Aleppo lembram as fotos tiradas das casas e sinagogas depois do pogrom. 

Destruição da Sinagoga 1947

Destruição de Aleppo hoje

Quem poderia imaginar que após ter sobrevivido todas as invasões da história, Aleppo ira sucumbir a uma guerra civil religiosa entre sunitas e xiitas?

Até agora, mais de 300 mil pessoas foram mortas na Síria e milhões fugiram de suas casas e não há qualquer esperança que a situação se resolva num futuro próximo. Sobrou apenas negociar a evacuação da população civil e rebeldes.

Com cinco semanas para transferir a presidência para Donald Trump, Obama deixa a Casa Branca sobre as ruinas de Aleppo. Seu legado sobre o Oriente Médio será todo este horror e sua herança para o próximo governo, será este fiasco de proporções bíblicas.

O que a mídia interpretou ser uma busca informada e resoluta para reinventar o Oriente Médio em seu discurso no Cairo em 2009, resultou em uma mostra de ignorância, arrogância, ingenuidade e negligência de Obama. A consequência foi múltiplos banhos de sangue e perdas estratégicas na região que agora culminaram com a queda de Aleppo. O discurso foi intitulado “Um Novo Começo”. Nele Obama citou o Corão, pediu desculpas pelo envolvimento americano no golpe do Irã de 1953, censurou a França por proibir o uso do véu e bradou para a audiência muçulmana delirante que “os assentamentos têm que cessar”!

Naquele momento, a politica do presidente Teddy Roosevelt de "falar manso e carregar um bastão longo foi substituída por “grite e não carregue qualquer bastão”. Naquele momento também, o mundo começou a perder o medo do Tio Sam.

Apenas uma semana após o discurso, os aiatolás roubaram as eleições no Irã, assassinaram e prenderam centenas de manifestantes pró-democracia e Obama ficou quieto. Um ano e meio mais tarde, Obama lembrou de sua voz e a usou para defender o resultado das eleições no Egito que colocaram a Irmandade Muçulmana no poder, jogando seu aliado Hosni Mubarak para baixo do ônibus. Quer dizer, no Irã era ok não respeitar as eleições...

Aí veio a guerra na Líbia, quando ele cunhou o oximoro “liderar por trás” e sua promessa de atacar a Síria se ela usasse armas químicas contra civis. Em 2013, John Kerry chamou o ataque químico de Assad uma “obscenidade moral”. Mas não obsceno o suficiente para agir.

No Egito, os islamistas já tinham sido removidos do governo mas Obama decidiu boicotar o novo governo de Al-Sissi. Aí a Rússia abocanhou o mercado de armas egípcio. Mas Putin não parou aí.

Vendo que Obama era um tigre sem dentes, a Rússia anexou a Crimeia e parte da Ucrânia. Ao mesmo tempo, ela triplicou suas forças na Síria e com toda a passividade em Washington, a Rússia decidiu entrar na guerra ativamente.  

Do outro lado do mundo, a China também se aproveitou da fraqueza de Obama e apressou a construção de ilhas para expandir seu mar territorial, provocou navios japoneses, coreanos e filipinos e implantou uma plataforma offshore nas ilhas Paracel.

Por cima de toda esta falta de lei e ordem no mundo, o Oriente Médio que Obama achava poder pacificar com algumas frases de efeito, vomitava seus cidadãos numa onda migratória nunca antes vista, colocando em perigo não só o futuro da União Europeia, mas o sistema internacional como um todo.

Este é o resumo do governo Obama que hoje resta sobre as cinzas de Aleppo. Com as cortinas caindo sobre sua presidência, Obama precisaria pedir desculpas. Primeiro para as vítimas e as famílias massacradas, refugiadas, empobrecidas, por sua total incompetência e sua falta de visão, dando passagem livre a Assad o homem que hoje detém o recorde de ter matado mais árabes que qualquer outra pessoa na história; segundo, ao povo americano, pois em oito anos ele jogou na lixeira 70 anos de trabalho e dominação na região sem qualquer coisa em troca, e sem um plano B; e finalmente Obama deve pedir desculpas aos aliados árabes que perderam total confiança na América.

O próximo presidente Donald Trump parece saber que o islamismo radical junto com a política de expansão da Rússia são os inimigos do dia. Seus discursos são claros quanto a isso. Não é atraente ou bonito, ou muito menos politicamente correto ou humanista como a mídia e os idealistas gostariam. Mas diferentemente do Cairo em 2009, Trump sabe que ele precisa restaurar não só a sanidade, mas a sentido de realidade no governo americano.

Nesta semana 82 civis foram massacrados por milícias xiitas da Hezbollah em Aleppo. Eles entraram nas casas de sunitas e atiraram em todos, mulheres, crianças, velhos. Mataram também todos os médicos e pacientes que se encontravam no único hospital restante no leste da cidade. O mundo ficou silencioso. Da mesma forma que em Ruanda, Srebrenica, Darfur, Afeganistão, Iraque e no Monte Sinjar dos Yazidis, o mundo continua a preferir dar condolências e prêmios às vitimas do que pegar em armas e defender os inocentes.

O Nunca Mais dito após o Holocausto para justificar a criação da ONU, foi apenas um slogan. O silencio desta organização, sem mesmo uma reunião do Conselho de Segurança sobre o destino de Aleppo é ensurdecedor. Como finalmente confessado por Ban Ki Moon nesta semana em seu discurso final como Secretário Geral, o foco da ONU é desproporcionalmente Israel. Achamos que no século 21 estaríamos mais esclarecidos, mais civilizados. Acho que os Hunos poderiam nos dar algumas lições de humanidade. E este é o mundo que estamos deixando para nossos filhos.



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