Sunday, June 11, 2017

A Complicada Situação de Qatar - 11/06/2017

Nesta semana tivemos vários eventos com consequências imprevisíveis para os Estados Unidos e Israel.

Primeiro, a embaixadora americana na ONU Nikki Haley visitou Israel, recebendo uma acolhida de estrela. Apesar de estar baseada em Nova Iorque, Haley tem marretado o Conselho de Direitos Humanos em Genebra e ameaçou retirar os Estados Unidos – o maior patrocinador do Conselho - se suas exigências de reforma não forem implementadas. Uma dela é a eliminação do Artigo 7 da Agenda que obriga o Comitê a criticar Israel a cada sessão. O único país do mundo a ter um artigo de condenação obrigatório. 

No meio da semana tivemos o testemunho bizarro do ex-diretor do FBI, James Comey no qual ele confessou ter vazado para a imprensa um memorando oficial de seu encontro com Trump. Pelo menos Comey confirmou de uma vez por todas que não houve qualquer conluio entre Trump e os russos sobre as eleições – para desespero dos democratas.

Pela primeira vez, esta semana o Irã tomou uma dose de seu próprio veneno. Sendo o patrocinador-mor do terrorismo mundial, Teherã sofreu dois ataques simultâneos na quarta-feira, supostamente perpetrados pelo Estado Islâmico.  O Irã imediatamente culpou a Arábia Saudita e prometeu vingança.

E finalmente, tivemos a inesperada ação da Arábia Saudita, Egito, Líbia, Iêmen, Bahrain e Emirados Árabes que cortaram relações diplomáticas com Qatar, fechando suas fronteiras, negando acesso ao seu espaço aéreo e declarando um bloqueio econômico ao Emirado por suas ligações com grupos terroristas e a Irmandade Muçulmana.

O pequeno emirado devia estar esperando por uma destas. Há anos que o Emir trabalha incessantemente para dominar a política do mundo Islâmico. Em 1995, Qatar descobriu um dos maiores campos do mundo de gás natural. Só que um terço do campo está em águas territoriais do Irã o que prontificou a aproximação entre o emirado Sunita e a Republica Islâmica xiita.

Nos anos 90 Qatar se tornou um dos países mais ricos do mundo e seu regime adotou uma política para minar os regimes sunitas do mundo árabe usando propaganda e patrocinando o terrorismo.

Em 1996, o Emir de Qatar criou o canal de noticias em árabe Al Jazeera. Em 2013 Al Jazeera comprou o canal Current TV do ex-presidente americano Al Gore e lançou Al-Jazeera em inglês. O canal tem  em média 60 milhões de telespectadores, sendo o maior formador de opinião do mundo árabe. Sua programação é abertamente oposta aos Estados Unidos e seus aliados sunitas,  apoia a Irmandade Muçulmana e todo grupo terrorista derivado além do Irã e da Hezbollah.

A Al-Jazeera é também visceralmente anti-Israel e antissemita.

O canal funciona como  braço propagandístico da Al-Qaeda, da Hezbollah, do Hamas, do Jihad Islâmico e de qualquer um que atacar a América, Israel, a Europa ou seus aliados.  A Al-Jazeera fez uma extensa cobertura das comemorações em Beirute da volta de Samir Kuntar, o brutal terrorista solto por Israel em 2008 que em 1979 matou quatro adultos a tiros e duas crianças batendo suas cabeças contra pedras na praia em Nahariah.

Al Jazeera teve um papel central na tomada de poder no Egito pela Irmandade Muçulmana e na queda de Muamar Qadafi na Líbia. Nos últimos 20 anos o regime de Qatar foi o maior financiador da al-Qaeda, do Hamas e das milícias associadas com o Estado Islâmico no Iraque e Síria.  Numa comunicação do Depto de Estado americano vazada pela Wikileaks em 2009, Qatar figura como o maior financiador do terrorismo do mundo.

A gota que transbordou o copo, de acordo com o Financial Times, foi a descoberta pelos sauditas que em abril Qatar pagou ao Irã e suas milícias iraquianas e às forças da al-Qaeda na Síria, módicos 1 bilhão de dólares para libertar 50 terroristas presos na Síria.

Depois da visita de Trump ao Oriente Médio, os países sunitas decidiram romper com Qatar até que o emirado denuncie sua aliança estratégica com o Irã, cesse seu suporte financeiro a grupos terroristas e expulse terroristas de seu território.

Se isto acontecer, o Irã irá sofrer um baque enorme. Qatar funciona hoje como seu banqueiro e intermediário diplomático. E se fosse só isso, seria fácil para Trump se manter firme junto a seus aliados sunitas, mas a coisa é mais complicada.

Os Qataris não são bobos e assistiram O Poderoso Chefão. No filme, o filho de Don Corleone diz ter aprendido a manter seus amigos próximos e seus inimigos ainda mais próximos. Nestes anos os Qataris não mediram esforços e dinheiro para envolver os Estados Unidos e suas instituições num emaranhado de relações que levou o Secretario de Estado Rex Tillerson a correr para colocar panos quentes na crise.

Além de doações milionárias a várias fundações, inclusive a dos Clintons, os Qataris investiram centenas de milhões de dólares em universidades americanas. As seis maiores universidades dos Estados Unidos têm campus em Qatar. Até o Instituto Brookings, o prestigioso think-tank americano, abriu uma filial em Doha.

Qatar tentou até trazer Israel para sua zona de influência. Em 1996 o emirado estabeleceu relações comerciais com o Estado Judeu que abriu um escritório comercial em Doha. O escritório foi fechado em 2000 e em 2009 Qatar rompeu todas as relações comerciais com Israel por causa da guerra com o Hamas.

Não é surpresa que Obama tenha tentado substituir o Egito por Qatar como mediador durante a guerra entre Israel e o Hamas. Não funcionou porque Qatar defendeu completamente as exigências do Hamas.

E aí temos o Pentágono. No fim dos anos 90, Qatar gastou mais de um bilhão de dólares para construir a Base Aérea Al Udeid e a ofereceu aos Estados Unidos. Em 2003, o Comando Militar Central Americano foi transferido da Arábia Saudita para Doha e é de lá que as ações americanas no Iraque, Afeganistão e Síria são coordenadas.

Com medo da situação deteriorar, o Irã enviou sua Guarda Revolucionária para proteger o Emir de Qatar, sua família e palácio. Na quarta-feira o parlamento turco, defensor da Irmandade Muçulmana votou para enviar tropas para proteger o regime em Qatar.

Isto tudo foi muito bem calculado. Qualquer ataque a Qatar será entendido como um ataque ao Irã e à Turquia que é membro da OTAN. Em toda esta bagunça entra também a Rússia, tentando tomar o lugar dos Estados Unidos. Trump imediatamente disse que ele próprio iria mediar o conflito e pode ser que ele consiga que Qatar atenda as exigências dos outros países sunitas do Golfo.

De qualquer forma, hoje temos uma nova realidade no Oriente Médio que não está mais claramente dividido entre sunitas e xiitas mas aonde poderosos critérios econômicos tomaram precedência.

Temos que estar todos atentos porque pessoas com um ego enorme, recursos ilimitados e contatos com os maiores grupos terroristas do mundo podem fazer muito estrago se decidirem faze-lo.




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