Sunday, October 8, 2017

A Reconciliação da Fatah e o Hamas - 08/10/2017

Nesta semana muito foi falado e elogios jorrados sobre a “reconciliação” entre o Hamas e a Fatah. Na terça-feira uma comitiva de 400 oficiais saiu de Ramallah para Gaza para os proverbiais abraços e beijos entre os rivais.  A mídia em geral descreveu o reencontro como uma vitória para a Fatah e derrota para o Hamas.

De fato, na superfície, a decisão do Hamas de cumprir as exigências da Fatah parece um reconhecimento que quando se trata de governar, o grupo não tem ideia do que fazer. Depois de 10 anos no leme, tomado jogando membros da Fatah do alto de prédios, o Hamas não tem nada para mostrar além de miséria e guerra. Chamados a fornecer comida, casas, empregos, eletricidade, esgotos, hospitais, segurança para mais de 1 milhão e meio de pessoas, eles decidiram que a prioridade era continuar suas ações contra Israel. Entregaram guerra, destruição e morte.

Em vez de pegar os trabalhadores treinados e toda a infraestrutura deixada pelos judeus expulsos em 2005 para fazer a Faixa de Gaza florescer, o Hamas os usou para produzir armas e mísseis. A consequência para os que elegeram o Hamas foi catastrófica. O desemprego chegou a 42%, combustíveis desapareceram, os esgotos entupiram, eletricidade e água foram racionadas, e a propaganda culpando Israel por tudo só aumentou junto com a vontade de destruir o estado judeu.

No campo diplomático o Hamas também só fez más escolhas. Quando a guerra civil irrompeu na Síria, o grupo apostou contra Bashar Al-Assad que sumariamente os expulsou de Damasco e bloqueou a ajuda financeira do Irã. Hoje os aiatolás voltaram a financiar o Hamas, mas Assad ainda no poder jurou o grupo como seu inimigo eterno. Com o Egito, a escolha não foi melhor. O Hamas alardeou seu apoio à Irmandade Islâmica de Mohamed Morsi - que pouco durou no poder, e contra os militares e o novo presidente al-Sissi. 

Seu grande aliado, a Turquia, mostrou muito menos entusiasmo pela “causa” do Hamas quando Israel encontrou enormes reservas de gás natural. Finalmente, a amizade entre o Hamas e Qatar também veio abaixo quando o Egito e a Arábia Saudita impuseram um boicote no emirado por financiar grupos terroristas nos dois países.

Assim, na superfície, o Hamas depois de 10 anos no poder parece estar econômica, politica e diplomaticamente falido e forçado a esta “reconciliação” com a Fatah. Uma prova que os islamistas não têm qualquer ideia sobre governo e como melhorar a vida de sua população.

Mas como eu disse no começo, as aparências enganam e a verdade está mais além. Apesar de sua derrota humilhante e sua expulsão de Gaza, a Fatah e a Autoridade Palestina continuaram a financiar o Hamas em Gaza. Abbas pagou as contas do Hamas incluindo a eletricidade fornecida por Israel, as contas dos hospitais israelenses que tratam de palestinos de Gaza e até os  salários das forças de segurança que deixaram a Fatah e se uniram ao Hamas. 

Internacionalmente, a Autoridade Palestina defendeu o Hamas em sua constante agressão, buscando e conseguindo condenar Israel por se defender dos ataques. A última vitória da Autoridade Palestina foi conseguir a afiliação na Interpol, a polícia internacional, apesar de seu apoio aberto e financiamento ao terrorismo. Daqui para frente, o Hamas terá acesso a todas as informações e ações da Interpol no mundo e poderá usá-la ou vender a informação pelo preço certo.

Na última década, a Fatah alocou mais da metade das doações europeias e americanas para o Hamas. Defendeu suas ações junto as três ultimas administrações americanas, para a ONU e ONGs europeias. Nenhum tipo de pressão fez qualquer efeito sobre a devoção ilimitada de Abbas em pagar salários aos terroristas do Hamas e suas famílias. Mas de repente em abril, Abbas decidiu suspender os pagamentos.

Novamente, a desculpa foi a pressão americana que aprovou uma lei proibindo dar ajuda econômica para a Autoridade Palestina enquanto ela continuar a pagar salários a terroristas. Mas os próprios palestinos dizem que a pressão americana nada teve a ver com a decisão de Abbas. Teve a ver com a aproximação do Hamas com seu arquirrival, Mohamad Dahlan.

Até a expulsão da Fatah pelo Hamas em 2007, Dahlan era o homem forte de Gaza. Por suas críticas a Abbas ele foi expulso com seus seguidores e se mudou para os Emirados Árabes aonde vive até hoje.

Os Emirados Árabes são aliados da Arábia Saudita e do Egito contra Qatar. Em maio deste ano, eles decidiram tirar Gaza da esfera de influencia de Qatar e engajaram Dahlan para se aproximar do Hamas. Em maio o Hamas cortou seus laços com a Irmandade Muçulmana. Em resposta, o Egito rapidamente apoiou a iniciativa e relaxou o fechamento da fronteira com Gaza.  

Logo o Hamas começou a descrever Dahlan como uma alternativa viável para Abbas e conseguiu o comprometimento dos Emirados Árabes para financiar o Hamas e pagar entre outras, as contas de eletricidade da Faixa de Gaza. Assim, Abbas não mandou seus representantes ao Cairo para negociar a “derrota” do Hamas, mas foi a entrada de Dahlan no cenário que trouxe a derrota de Abbas.                                                                                                                                Por outro lado, o Hamas está reconstruindo seu relacionamento com a Guarda Revolucionária do Irã tendo participado da posse do presidente Hassan Rouhani no mês passado. Um mês antes, o terrorista do Hamas Salah Arouri que vive em Beirute, preparou uma reconciliação entre seu grupo e a Hezbollah e por tabela, o Irã. Em todos os casos, o Hamas saiu vitorioso.

Como comentei anteriormente, o Hamas fez uma concessão: desbandar uma entidade governamental cosmética, formada há alguns meses em resposta ao corte de Abbas. Com isto o Hamas volta a receber o dinheiro da Autoridade Palestina incluindo os salários para os terroristas e suas famílias. Além disso, o Hamas está passando a responsabilidade pela eletricidade, coleta de lixo, esgotos, água e serviços públicos para a Fatah.

Com isso o Hamas estará livre para se concentrar na próxima guerra contra Israel. Pode escavar túneis, produzir mísseis, expandir seus laços com a Hezbollah, a guarda revolucionaria do Irã e a Fatah.

De fato, o novo primeiro ministro de Gaza, Yahya Sinwar declarou no Irã que o Hamas está “aumentando sua capacidade militar para libertar a Palestina.” Ele disse ainda que “cada dia produzimos mísseis e continuamos nosso treinamento militar dia e noite.”

De acordo com a comentarista Caroline Glick, esta reconciliação entre o Hamas e a Fatah nos ensina duas coisas: primeiro, a noção que Abbas quer derrotar o Hamas é uma idiotice. Por 10 anos a Fatah foi humilhada e expulsa de Gaza mas continuou a patrocinar e defender o Hamas. Para este fim, Abbas continuará a financiar as próximas 10 guerras contra Israel, se ele viver para tanto e com dinheiro Americano e europeu.

A segunda lição é que precisamos abaixar nosso entusiasmo sobre o apoio de Sissi a Israel. A decisão do presidente do Egito de mediar esta reaproximação entre a Fatah e o Hamas prova que sua aliança com o Estado Judeu é estratégica e limitada. E que sua decisão de ficar do lado de Israel e contra o Hamas na guerra três anos atrás pode não se repetir no próximo conflito.

Tudo deverá gerar em torno do que acontecerá entre o Irã e os Estados Unidos nos próximos meses.




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