Mais uma vez começamos a
semana com um total escandaloso e inaceitável de perdas de vidas ao redor do
mundo. Cortesia do jihadismo islâmico. Do
domingo passado a hoje foram 538 mortos em 12 países. Em um só ataque no Egito
na sexta-feira, 305 pessoas foram brutalmente assassinadas, entre elas 30
crianças.
Este ataque não foi só o mais
mortífero da história do Egito, mas o mais coordenado. No auge das preces de sexta-feira,
os terroristas detonaram bombas dentro da mesquita em Arish no Sinai. Quando os
devotos tentaram sair pelas portas e janelas, de 20 a 30 terroristas estavam
esperando em cada uma delas e os metralharam impiedosamente. Os terroristas também
queimaram os carros que estavam próximos para evitar a evacuação e atacaram as
ambulâncias que começaram a chegar. Testemunhas contaram que os atacantes
carregavam bandeiras do Estado Islâmico.
É, o que começa com os judeus nunca acaba com os judeus.
Nas décadas de 70 e 80, na
esteira de vários sequestros de aviões, o mundo resolveu desinfetar o terrorismo
e transformá-lo em um aceitável “combate pela libertação”. Isto porque se
tratava da OLP contra Israel e judeus. Para “comprar” o sossego e evitar
ataques contra si, o mundo reconheceu o chefe dos terroristas, Yasser Arafat,
como líder palestino, apesar dele ser egípcio, e milhões de dólares jorraram
para seus bolsos e os de seus comparsas.
Vendo que o terrorismo
compensa, todos os outros grupos de desafetos começaram a usar as mesmas
táticas. Do Japão, com o exército vermelho, ao Baader Meinhof na Alemanha, ao
exército de libertação nacional irlandês, os Tupamaros no Uruguai e os Montoneros
na Argentina, todos copiaram a OLP, usando sequestros, bombardeamentos e
intimidação para supostamente alcançarem seus objetivos políticos e ideológicos.
E devido a este mal pensado
apaziguamento de criminosos, o terrorismo hoje está fora de controle.
Na última terça-feira líderes iranianos declararam
triunfantes, o fim da retenção territorial do Estado Islâmico. O presidente do
Irã Hassan Rouhani deu a noticia ao vivo no canal de tevê oficial do estado. O
líder da força de elite do Irã - que nunca se manifesta, disse que o califado
do Iraque e Síria estava acabado. Pode ser que o grupo tenha sofrido uma derrota
territorial. Mas para quem seguiu toda a carnificina da semana, que incluiu o
achado de uma vala com 75 corpos de Yazidis chacinados no Iraque, qualquer
comemoração da derrota deste grupo é mais do que prematura. E talvez este
ataque no Sinai tenha sido uma resposta a Teerã que o Estado Islâmico existe e
continua forte.
O Irã, sendo um país xiita, é alvo natural para
o estado Islâmico que quer impor uma visão sunita salafista e para eles os
xiitas são heréticos. Salafistas, para quem precisa refrescar a memória, são os
que querem retornar o mundo aos dias do profeta e assim rejeitam qualquer
modernismo ou influência ocidental. Exceto
quando se trata de armas.
Os aiatolás conseguiram até agora evitar
ataques substanciais, mas não estão imunes. Em junho deste ano, houve dois
ataques simultâneos no parlamento e no túmulo de Khomeini que mataram 18
pessoas em Teerã.
Mas o que todos estão perguntando é porque islamistas
sunitas alvejaram uma mesquita sunita na sexta-feira?
Simples. Esta mesquita é frequentada por sufistas.
Os sufistas são sunitas como os outros. Eles seguem a sharia e os cinco pilares
do Islão. Mas eles têm rituais um pouco diferentes e os mais conhecidos são os
dervixes que dançam girando sem parar - que podem ser vistos na Turquia. Os
sufistas professam uma versão mística do Islão e sua filosofia é a de olhar para
a fagulha iluminada de Deus em cada ser humano e não suas falhas. Os sufistas
produziram as peças literárias e poemas de amor mais conhecidos do Islão, como
os do jurista iraniano Rumi que viveu no século 13.
Realmente algo que os separa dos que praticam a
decapitação e a decepação como os outros ramos do Islão.
Este ataque também foi singular porque o Egito
não conseguiu apreender nenhum dos terroristas que fugiram para o deserto do
Sinai. O presidente Abdel Fatah al-Sissi não consegue fazer muito além de
declarar três dias de luto e mostrar filmes de sua aviação destruindo depósitos
de armas dos jihadistas. Se o exército egípcio sabia dos depósitos, porque não
os destruiu antes?? O Sinai é um deserto inóspito, mas como no Afeganistão,
está cheio de cavernas aonde os jihadistas podem se esconder.
O grande revés da estratégia de Al-Sissi é a
falta de inteligência vinda do Sinai colocando seu governo à mercê destes
animais.
E assim, Erdogan e Rouhani foram para Sochi nesta
semana para se encontrarem com Vladimir Putin. Os três tiraram fotos
sorridentes de celebração de sua suposta vitória na Síria contra o Estado
Islâmico. Um dia antes, Putin recebeu a visita de Assad que veio lhe lamber as
botas. Uma vitória para os mauzinhos da estória.
O comentarista israelense Ehud Yaari declarou
que a capital do Oriente Médio agora é Sochi! E ele tem razão. Mas a coisa não para
aí.
O que acontece com as tropas americanas na
Síria? Há quatro mil soldados estacionados no país que foram enviados para
ajudar na guerra contra o Estado Islâmico. Mas mesmo com esta declaração de vitória
sobre o grupo, o jornal Washington Post noticiou que a administração Trump não tem
qualquer intenção de retirar as tropas da Síria que estão concentradas nas
áreas curdas do país. Se isto for verdade, será uma perda para a Turquia que
quer erradicar qualquer aspiração curda de independência.
E aí temos a Arábia Saudita e seus aliados.
Apesar de não serem tão fortes como o Irã ou a Hezbollah, os sauditas estão bem
armados e continuam a receber tecnologia e apoio americanos.
O que não pode acontecer agora são os Estados
Unidos caírem na mesma armadilha do passado: investir na reconstrução de um
país que se virará contra eles como o Afeganistão e o Iraque. Hoje a Síria está
destruída e manter a ordem é a desculpa que o Irã e a Hezbollah usam para
manter suas forças no país. Trump tem que saber que nem um nem outro sairão da
Síria mesmo se os Estados Unidos oferecerem pagar pela reconstrução.
O grande vitorioso deste episódio foi sem
dúvida Vladimir Putin porque hoje ele tem o domínio da Síria e, a Turquia e o
Irã estão se dobrando a ele.
Isto muda a realidade estratégica de Israel, com
forças iranianas a poucos quilómetros de sua fronteira norte.
Logo Donald Trump terá que tomar uma decisão
sobre o papel que a América pretende assumir no Oriente Médio. E ele tem que
saber que ao salvar a Síria estará também salvando estes tiranos. Ele tem que
deixar o Irã, a Hezbollah e Putin se virarem para reconstruir a Síria.
Isto dará mais tempo de preparação para o exercito de Israel; mais tempo
para consolidar sua aproximação com os países árabes do Golfo e mais para
frente teremos uma visão mais clara de como caminhará o impasse entre a Arábia
Saudita e o Irã.
Só aí veremos quem poderá realmente comemorar o fim do Estado Islâmico.