Monday, December 4, 2017

A Dança do Irã e Israel na Síria - 01/12/2017

Neste final de semana a mídia árabe noticiou que Israel teria atacado uma base militar no vilarejo de al-Kiswah, a 22 km ao sul da capital Damasco e a 50 km da fronteira com Israel.

O ataque teria causado falta de luz e explosões foram ouvidas na capital. A televisão síria divulgou somente que Israel teria atacado uma “posição militar” perto de Damasco causando apenas perdas materiais no local porque seus mísseis teriam sido neutralizados pelo exercito sírio.

A oposição síria, no entanto, confirmou reportagens da mídia social que o ataque teria sido contra uma base da Hezbollah que nas últimas semanas passou por uma grande expansão para alojar tropas e veículos.

Em agosto último, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, declarou que o Irã estava rapidamente aumentando sua expansão na Síria. Que o Mossad tinha submetido um relatório mostrando que onde o Estado Islâmico tinha sido expulso, o Irã havia tomado seu lugar. “É muito simples”, disse Bibi. “Nós somos veementemente contra o enraizamento militar do Irã e de seu satélite, a Hezbollah na Síria e faremos tudo o que for necessário para preservar a segurança de Israel”.

Israel até agora se manteve calada, nem confirmando, nem negando o ataque.

Mas o que foi realmente atacado na Síria? De acordo com a mídia iraniana, nenhuma base iraniana teria sido atacada perto de Damasco. No máximo o alvo teria sido um “deposito de armas sírio”. Mas de acordo com a agência de notícias turca Anadolu, se tratou de uma base militar que continha uma fábrica de munições.

A Síria e o Irã afirmaram que os mísseis de Israel teriam sido interceptados. Estas declarações, especialmente do Irã são um esforço para descrever o ataque como um incidente que não merece nem uma manchete e especialmente que nada tem a ver com o Irã.

Se a inteligência israelense estiver correta, esta base continha forças da Hezbollah e também do Irã. A falta de uma resposta iraniana até agora, até algo que mostre seu comprometimento com a suposta proteção da Síria, mostra o quanto Teerã não quer que este ataque se torne um teste estratégico que o ponha em choque direto com Israel.

A oposição iraniana divulgou com detalhe os locais das bases iranianas e de seus agentes na Síria. São mais de 70 mil soldados incluindo membros da Guarda Revolucionária, recrutas do Afeganistão, soldados da Hezbollah e outros estrangeiros.

O enorme investimento militar do Irã na Síria mostra que os aiatolás não querem de modo algum perder a oportunidade estratégica de estender seus tentáculos até o Mediterrâneo e efetivamente criar o crescente xiita. Contrariamente da Turquia ou os Estados Unidos que entraram na Síria sob protesto de Assad, o Irã é convidado de Bashar al-Assad para ajudar na defesa do país e portanto sua presença é legítima.

Esta presença foi confirmada no sábado durante a conferência em Roma intitulada “Diálogos do Mediterrâneo” aonde o ministro do exterior russo Sergey Lavrov pediu para os países que não foram convidados pela Síria, para se retirarem. Uma mensagem clara para os Estados Unidos sair, enquanto que os russos e os iranianos ficariam.

Não podemos esquecer que o Irã é sócio do processo diplomático liderado pela Rússia incluindo os acordos sobre zonas de segurança. Qualquer solução submetida pelo governo sírio, a oposição e rebeldes, devem ser aprovados pelo Irã. É a primeira vez desde a revolução islâmica na qual o Irã tem um papel de líder na resolução de conflitos no Oriente Médio. E este status, adquirido depois da assinatura do acordo nuclear, os iranianos devem a Barack Obama.

O Irã também está diretamente envolvido no conflito no Iêmen e praticamente decide o que se passa no Iraque. Assim, o Irã quer aproveitar esta nova posição estratégica e não coloca-la em risco, chocando-se com Israel.

Além disso, ultimamente o Irã se fortificou com relação à Arábia Saudita. A Arábia foi colocada de lado nas negociações para resolver a guerra civil na Síria, ainda está envolvida na guerra no Iêmen e a crise produzida no Líbano não lhe trouxe o resultado previsto.

Mas o Irã não é o único pesando suas respostas. A Rússia já deixou claro que ela tem suas linhas vermelhas e que Israel não terá liberdade para agir militarmente na Síria. A Rússia pode até considerar o ataque de ontem como uma atravessada de Israel destas linhas vermelhas devido à proximidade do local à capital Damasco.

Se no passado parecia que a Rússia fechava os olhos para os ataques de Israel a comboios de armas para a Hezbollah, e ações em retaliação a mísseis lançados do território sírio, agora Putin pode decidir amarrar as mãos de Israel do mesmo modo que o fez com a Turquia e os Estados Unidos. Isto quer dizer que a Rússia pode exigir que Israel coordene com ela qualquer ataque na Síria, o que tiraria toda a vantagem da surpresa de Israel.  

Agora entendemos porque Israel está se mantendo quieta sobre este ataque. Se o Irã pode negar que foi atacada, Israel pode se calar sobre a autoria.

Hoje a Rússia está preocupada com completar o processo diplomático e declarou que a fase militar na Síria chegou ao fim. Mais uma rodada de negociações irá acontecer no Cazaquistão no fim deste mês e outra em Genebra a ser marcada.

Por seu lado, a Rússia conseguiu até agora negociar cessar-fogos parciais na Síria e quer chegar num cessar-fogo geral em todo o país. Não é de seu interesse abrir as portas de um novo front entre a Síria e Israel.

Tudo isso mostra que Israel está pensando muito bem que estratégia tomar e não está esperando que o Irã se estabeleça permanentemente na Síria. Bibi está cumprindo o prometido e aonde o Irã pense em se fixar, Israel estará lá para impedir.



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