Neste final de semana a mídia
árabe noticiou que Israel teria atacado uma base militar no vilarejo de
al-Kiswah, a 22 km ao sul da capital Damasco e a 50 km da fronteira com Israel.
O ataque teria causado falta de
luz e explosões foram ouvidas na capital. A televisão síria divulgou somente que
Israel teria atacado uma “posição militar” perto de Damasco causando apenas perdas
materiais no local porque seus mísseis teriam sido neutralizados pelo exercito
sírio.
A oposição síria, no entanto,
confirmou reportagens da mídia social que o ataque teria sido contra uma base
da Hezbollah que nas últimas semanas passou por uma grande expansão para alojar
tropas e veículos.
Em agosto último, o
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, declarou que o Irã estava rapidamente aumentando
sua expansão na Síria. Que o Mossad tinha submetido um relatório mostrando que onde
o Estado Islâmico tinha sido expulso, o Irã havia tomado seu lugar. “É muito
simples”, disse Bibi. “Nós somos veementemente contra o enraizamento militar do
Irã e de seu satélite, a Hezbollah na Síria e faremos tudo o que for necessário
para preservar a segurança de Israel”.
Israel até agora se manteve
calada, nem confirmando, nem negando o ataque.
Mas o que foi realmente atacado
na Síria? De acordo com a mídia iraniana, nenhuma base iraniana teria sido
atacada perto de Damasco. No máximo o alvo teria sido um “deposito de armas
sírio”. Mas de acordo com a agência de notícias turca Anadolu, se tratou de uma
base militar que continha uma fábrica de munições.
A Síria e o Irã afirmaram que
os mísseis de Israel teriam sido interceptados. Estas declarações,
especialmente do Irã são um esforço para descrever o ataque como um incidente
que não merece nem uma manchete e especialmente que nada tem a ver com o Irã.
Se a inteligência israelense
estiver correta, esta base continha forças da Hezbollah e também do Irã. A
falta de uma resposta iraniana até agora, até algo que mostre seu
comprometimento com a suposta proteção da Síria, mostra o quanto Teerã não quer
que este ataque se torne um teste estratégico que o ponha em choque direto com
Israel.
A oposição iraniana divulgou
com detalhe os locais das bases iranianas e de seus agentes na Síria. São mais
de 70 mil soldados incluindo membros da Guarda Revolucionária, recrutas do
Afeganistão, soldados da Hezbollah e outros estrangeiros.
O enorme investimento militar do
Irã na Síria mostra que os aiatolás não querem de modo algum perder a
oportunidade estratégica de estender seus tentáculos até o Mediterrâneo e
efetivamente criar o crescente xiita. Contrariamente da Turquia ou os Estados
Unidos que entraram na Síria sob protesto de Assad, o Irã é convidado de Bashar
al-Assad para ajudar na defesa do país e portanto sua presença é legítima.
Esta presença foi confirmada no
sábado durante a conferência em Roma intitulada “Diálogos do Mediterrâneo”
aonde o ministro do exterior russo Sergey Lavrov pediu para os países que não
foram convidados pela Síria, para se retirarem. Uma mensagem clara para os
Estados Unidos sair, enquanto que os russos e os iranianos ficariam.
Não podemos esquecer que o Irã
é sócio do processo diplomático liderado pela Rússia incluindo os acordos sobre
zonas de segurança. Qualquer solução submetida pelo governo sírio, a oposição e
rebeldes, devem ser aprovados pelo Irã. É a primeira vez desde a revolução
islâmica na qual o Irã tem um papel de líder na resolução de conflitos no
Oriente Médio. E este status, adquirido depois da assinatura do acordo nuclear,
os iranianos devem a Barack Obama.
O Irã também está diretamente
envolvido no conflito no Iêmen e praticamente decide o que se passa no Iraque.
Assim, o Irã quer aproveitar esta nova posição estratégica e não coloca-la em
risco, chocando-se com Israel.
Além disso, ultimamente o Irã se
fortificou com relação à Arábia Saudita. A Arábia foi colocada de lado nas
negociações para resolver a guerra civil na Síria, ainda está envolvida na
guerra no Iêmen e a crise produzida no Líbano não lhe trouxe o resultado
previsto.
Mas o Irã não é o único pesando
suas respostas. A Rússia já deixou claro que ela tem suas linhas vermelhas e
que Israel não terá liberdade para agir militarmente na Síria. A Rússia pode
até considerar o ataque de ontem como uma atravessada de Israel destas linhas
vermelhas devido à proximidade do local à capital Damasco.
Se no passado parecia que a Rússia
fechava os olhos para os ataques de Israel a comboios de armas para a
Hezbollah, e ações em retaliação a mísseis lançados do território sírio, agora
Putin pode decidir amarrar as mãos de Israel do mesmo modo que o fez com a
Turquia e os Estados Unidos. Isto quer dizer que a Rússia pode exigir que
Israel coordene com ela qualquer ataque na Síria, o que tiraria toda a vantagem
da surpresa de Israel.
Agora entendemos porque Israel
está se mantendo quieta sobre este ataque. Se o Irã pode negar que foi atacada,
Israel pode se calar sobre a autoria.
Hoje a Rússia está preocupada
com completar o processo diplomático e declarou que a fase militar na Síria
chegou ao fim. Mais uma rodada de negociações irá acontecer no Cazaquistão no
fim deste mês e outra em Genebra a ser marcada.
Por seu lado, a Rússia
conseguiu até agora negociar cessar-fogos parciais na Síria e quer chegar num
cessar-fogo geral em todo o país. Não é de seu interesse abrir as portas de um
novo front entre a Síria e Israel.
Tudo isso mostra que Israel
está pensando muito bem que estratégia tomar e não está esperando que o Irã se
estabeleça permanentemente na Síria. Bibi está cumprindo o prometido e aonde o
Irã pense em se fixar, Israel estará lá para impedir.
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