Há algumas
semanas relatei aqui sobre uma Lei absurda que a Polônia havia aprovado, penalizando
com até três anos de prisão qualquer um que dissesse que o Estado ou seus
cidadãos estavam envolvidos nos crimes perpetrados pelos nazistas em solo polonês.
Além de ser uma tentativa pobre e triste de reescrever a história, os poloneses
se deram ao direito de processar qualquer um, mesmo os que não sejam cidadãos
poloneses por este “crime”.
O artigo-chave
da lei diz o seguinte: “qualquer um que disser, publicamente e contrariamente
aos fatos, que a nação polonesa ou a Republica da Polônia foram responsáveis ou
corresponsáveis pelos crimes nazistas cometidos pelo Terceiro Reich... ou por
outros crimes que constituam crimes contra a paz, contra a humanidade ou crimes
de guerra, ou qualquer um que minimize de modo grosseiro a responsabilidade dos
verdadeiros perpetradores destes crimes, será penalizado com multa e encarceramento
de até três anos”.
Apesar do Ministério
do Exterior da Polônia ter assegurado à Israel que a lei ainda não seria
aplicada até que alguns pontos pendentes tivessem sido revisados, os processos
começaram.
Nesta ultima sexta-feira, a Liga Polonesa Contra a Difamação entrou com uma denuncia contra
o site de noticias argentino Pagina 12 e seu jornalista Federico Pavlovsky. Em dezembro
- um mês antes de a lei ser aprovada - o site publicou um artigo sobre o pogrom
de Jedwabne que ocorreu em 1941 quando mais de 300 judeus foram massacrados por
seus vizinhos poloneses durante a ocupação nazista. A denúncia ataca mais
especificamente uma foto ilustrativa usada pelo site, tirada depois da guerra mostrando
poloneses da resistência que nada tinha a ver com o pogrom.
Quer dizer, a
Polônia realmente almeja amordaçar o mundo para reescrever a História e limpar
a mácula antissemita que assola o país ainda hoje.
Não
precisamos ir longe. No sábado da semana passada, um padre polonês falou na
televisão estatal que a verdade para os judeus é a que for benéfica para eles.
Henryk Zielinski, editor-chefe do jornal católico Idziemy, disse que os judeus
têm “um sistema de valores completamente diferente e um conceito diferente da
verdade” que a seu ver não é baseado em fatos, mas ao que lhes é benéfico.
O que os
poloneses não podem negar é que apesar de também terem sido perseguidos pelos
nazistas eles aproveitaram as leis raciais e o ódio ao judeu para matar,
torturar, saquear e roubar seus vizinhos. O primeiro ministro polonês se gaba
das histórias de poloneses que protegeram judeus durante a guerra. O que ele
não conta é que estes poloneses foram ostracizados e até mortos, e
invariavelmente pediam aos judeus que ajudaram para não contarem para ninguém
como haviam sobrevivido à guerra ou quem os havia ajudado. Se esta era uma
coisa tão nobre, por que escondê-lo?
O jornal
Jerusalem Post publicou nesta semana um artigo sobre um relatório de 1946, desclassificado
pelo Departamento de Estado Americano em 1983, que hoje está no Centro Simon
Wiesenthal. O relatório intitulado “Os judeus da Polônia desde a Liberação”
documentou o tratamento abominável que os judeus poloneses receberam antes,
durante e depois da Segunda Guerra Mundial igualando os poloneses aos nazistas e
dizendo que muitos judeus preferiram fugir até mesmo para a Alemanha do que
ficar na Polônia depois da guerra.
Após a
libertação, os sobreviventes judeus saíram dos campos de trabalhos forçados e
de concentração, se arrastaram cuidadosamente dos esconderijos e descartaram suas
identidades falsas. Eles se levantaram e olharam para as ruínas fumegantes e as
montanhas de entulho que havia se tornado a maior parte da Europa enquanto
estavam presos ou escondidos. Seu primeiro passo, depois de fugir da morte, foi
o de procurar por familiares, amigos e vizinhos que poderiam, como eles, ter sobrevivido
ao inferno contra todas as probabilidades.
Muitos
decidiram voltar para suas casas de pré-guerra, mas em alguns lugares,
especialmente na Europa Oriental, os judeus encontraram graves surtos de antissemitismo
e violência anti-judaica. Isso parece irônico: ao menos deveria ter havido alguma
simpatia da população local por essas pessoas que perderam tudo - suas casas,
anos de vida e, em muitos casos, suas famílias inteiras - especialmente depois dos
horrores do Holocausto terem vindo à tona.
Em vez disso,
os judeus poloneses sobreviventes que retornaram, encontraram um antissemitismo
terrível em sua fúria e brutalidade. O episódio mais chocante foi o pogrom de
Kielce - um ataque violento em julho de 1946 por residentes poloneses que
chacinaram 42 judeus. O pogrom ocorreu porque um menino que havia fugido de
casa voltou mentindo que dizendo que ele
havia sido raptado por judeus e mantido no porão de uma casa aonde varias famílias
judias estavam alojadas. Mesmo após a policia ter verificado que a casa não
tinha porão e que o menino mudava sua estória a cada inconsistência, a
população, junto com policiais, invadiu o imóvel e linchou os judeus que lá
estavam.
Kielce
tornou-se o ponto de virada para os judeus sobreviventes. O pogrom logo após a
guerra se tornou a prova suprema de que não restava qualquer esperança de
reconstruir a vida judaica na Polônia. E soou um alarme interno: durante os
meses que se seguiram, os sobreviventes fugiram da Europa Oriental de qualquer forma
que conseguissem. Imediatamente após o pogrom, mais de 60 mil judeus
sobreviventes fugiram da Polonia.
Quem quiser
mais detalhes é só ler os livros de Jan Gross, “Vizinhos” e “Medo: o
Antissemitismo na Polônia Depois de Auschwitz”. A Polônia precisa reconhecer
que o antissemitismo no país é um problema com uma grande longevidade. O relatório do Departamento de Estado
Americano não foi escrito por judeus. Em Kielce, outros 13 judeus
que retornaram foram mortos, 10 deles pelos invasores de suas propriedades. É claro
que a propaganda nazista antissemita foi completamente absorvida pela população
polonesa que apesar dos horrores do Holocausto, não tinham qualquer problema em
continuar a matar judeus. O escritor polonês Osmanxzyk descreveu esta como “a
geração infectada pela morte”. Outro escritor Stanislaw Ossowski escreveu
depois do pogrom que “a inabilidade de se escandalizar por este crime é devido
ao treinamento durante a guerra: o assassinato de judeus cessou de ser algo
extraordinário. Porque precisamos nos preocupar com a morte de quarenta judeus
quando crescemos acostumados com a ideia que Hitler os matara aos milhões?”
Mas estamos
falando do assassinato de seres humanos inocentes. Todas as explicações do
mundo não podem mudar ou justificar estes crimes. Aonde os judeus foram
saqueados, denunciados, traídos ou mortos por seus vizinhos, seu ressurgimento
após a guerra trouxe aos poloneses este sentimento duplo de vergonha e
desprezo.
Enquanto a
sociedade polonesa não puder chorar a morte de seus vizinhos judeus eles
precisarão elimina-los como estão fazendo e continuar a viver na infâmia.
Eu recebi e-mail da Liga Polonesa Contra a Difamação essa semana pq divulguei no meu blog uma imagem de campo de concentração na Polônia. Eles entenderam que eu estava afirmando que o campo de concentração perctencia aos poloneses e pediram para que eu deixasse bem claro na postagem que o campo pertencia aos alemães nazistas e não aos poloneses.
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